Há pouco ouvia uma senhora, na televisão, berrar a vergonha que era o Carnaval deixar de ser feriado. Ou a dita senhora estava louca ou então nunca se apercebeu de que o Carnaval jamais foi feriado. O Governo dava tolerância de ponto porque queria, mas nunca este dia foi considerado efectivamente um feriado nacional. Este ano, como é sabido, o nosso Primeiro Ministro não deu a boa da tolerância de ponto e meio país veio abaixo com nervos. O que chega a ter mais piada é que vieram as pessoas dos municípios com tradições carnavalescas, mas também as dos outros, que não passam cartão nenhum a esta festa.
Muito sinceramente, não percebi por que razão houve tanto barulho por isto. Acredito que os lugares que organizam grandes festas para estes dias e que com elas arrecadam receitas substanciais tivessem todas as razões para não achar piada à decisão. Mas e os outros? Preferiam que o Governo cortasse quatro feriados e depois desse tolerância de ponto na Terça-Feira de Carnaval (proporcionando, assim, a muita gente uma bela de uma ponte)? Isso teria alguma lógica? Mais: os que reclamaram já se aperceberam de que o país está SEM DINHEIRO para poder dar-se ao luxo de continuar na real farra em que sempre tem andado?
Acho muito bem que certos municípios tenham dado a tal tolerância de ponto aos funcionários para que, assim, possam realizar-se as festas que há tantos meses se andam a preparar. Contudo, não vejo por que razão todo o país (leia-se «toda a função pública», porque os privados nunca entram nas contas...) deva parar por causa de uma coisa que nem feriado é. Minha gente, há luxos que têm de acabar e o Carnaval, por enquanto, é um deles. Goste-se ou odeie-se a medida, não poderia ser de outra forma e o único erro foi a decisão do Governo ter sido divulgada tão em cima da hora. Aliás, o anúncio foi tão em cima do acontecimento que até as escolas ficaram sem saber o que fazer.
Às vezes parece-me que ainda não nos apercebemos bem da nossa situação. A grande maioria dos portugueses (na qual me incluo) não percebe nada de finanças e de economia e, portanto, vai entendendo pouco do que acontece. Ainda hoje ouvia uma senhora dizer que estando os concertos musicais sempre cheios, nunca o país poderia estar tão mal como se anuncia. Ora, tudo isto, mais as greves, mais a raiva pela tolerância de ponto desaparecida, mais a falta de empregos, mais toda a porcaria em que estamos atolados até ao pescoço faz-me lembrar uma passagem d'Os Maias, do nosso caro Eça de Queirós. Fala-se de finanças durante um jantar, um dos muitos encontros sociais por onde passam as personagens do romance e, a dada altura, podemos ler o seguinte: «Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota». Como vemos, de 1888, ano da publicação d'Os Maias, até 2012 parece não ter mudado assim tanta coisa. Continuamos a não perceber de finanças e a caminhar com muita alegria para onde não devíamos ir...
e por isso mesmo é que as pessoas ainda não caíram na real situação em que o país está, porque não percebemos nada de finanças. mas acho bem que o governo tenha tirado a tolerância de ponto, seria ridículo se não o fizesse.
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