As minhas sugestões valem o que valem (ou seja, nada), mas resolvi, a partir de hoje, dar início a uma porção de quixotadas em que sugiro coisinhas de que gosto porque já li ou já experimentei ou já provei... Se em «A Menina Quer Isto» pedincho descaradamente aquilo que parece ir ao encontro dos meus gostos (ainda que depois me possa desiludir), aqui partilho com os meus caríssimos e muy estimados quixoteiros as coisas que considero demasiado boas para ficar com elas só para mim.
Assim sendo, a menina hoje sugere um dos livros que mais gostou de ler nos últimos anos. O Cónego, de A. M. Pires Cabral é um romance para o qual encontro apenas uma palavra: delicioso. Devora-se como devoramos o nosso gelado favorito e ficamos com a sensação de que acabou num instante. A história é narrada por um padre jovem que é destacado para uma paróquia do norte de Portugal. Lá chegado, apercebe-se de que em tempos viveu ali um cónego muito pouco vulgar que havia feito vibrar de alto a baixo a vida daquele lugar. Como um detective de batina, o novo padre, Salviano Taveira, procurará conhecer o melhor possível a vida do anterior cónego, procurando todos aqueles que o possam esclarecer e ficando cada vez mais absorvido pela sua curiosidade. A dada altura as próprias gentes desconfiam do seu interesse naquela figura, porém continuam a partilhar com ele o que sabem, ao mesmo tempo que nos mostram a vida no interior norte do país.
O livro está escrito com um apontamento de humor que é ma-ra-vi-lho-so. Faz, em muitos momentos, recordar Eça de Queirós quando, nos seus romances, descreve os homens do clero como sendo glutões e muito dados àquilo que lhes estava, por regra, vedado. Encontramos, então, eclesiásticos que caçam, que jogam a dinheiro, que deixam filhos e abandonam mulheres e um padre mais jovem que despacha as missas para poder dedicar-se à sua investigação sobre a figura daquele cónego tão misterioso. Damos por nós a ter a mesma sensação que teríamos se lêssemos um policial da Agatha Christie. Queremos saber mais sobre aquela personagem que dá título ao livro. No final, quem foi aquele cónego? Será que o padre Salviano Taveira o consegue descobrir? Leiam!
Deixo-vos as primeiras linhas deste livro:
«O meu nome é Salviano Taveira. Salviano de Jesus Pinto Taveira, para ser mais preciso e completo. Tenho vinte e seis anos. Sou sacerdote.
Realizei há menos de um ano esse sonho de meus pais - ter um filho padre -, sonho que provavelmente os acompanhou desde o dia em que se casaram com o piedoso intuito de contribuirem para a multiplicação da espécie determinada por Deus no quinto dia da Criação, ou talvez antes ainda, e se fortaleceu no momento em que, no dia 13 de Fevereiro de 1923, pelas sete horas da manhã, a velha entendida que fazia as vezes de parteira de quanta criança nascia na nossa aldeia me aparou e, após um sumaríssimo exame, disse "é um rapaz".»
Cabral, A. M. Pires (2007). O Cónego. Lisboa: Cotovia.
Acho que deste inicio a uma boa rubrica.
ResponderEliminar:)
Agrada-me esta sugestão.
Filha,
EliminarPode crer que vou botar esse no bucho. Não é tarde nem é cedo!
Com cumprimentos consumistas,
Filho
O livro é, sem dúvida, espectacular.
ResponderEliminarNo que respeita à referência que fazes a Eça de Queirós, posso dizer que faz todo o sentido.
P.A.