Hoje, no intervalo entre duas aulas, um aluno meu de outra nacionalidade veio pedir-me para ler um poema que tinha estado a escrever na aula anterior (quando devia ter estado, com o resto da turma, a tentar perceber alguma coisa do «Consílio dos Deuses» n'Os Lusíadas...). Bem, li e corrigi o texto e ele foi explicando que aquilo tinha que ver com o trabalho dele na produtora em que trabalha e que estivera no dia anterior a fazer um instrumental para aquele poema que ia desenvolvendo aos poucos. Disse-me, também, que já tinha dois discos gravados, mas que queria fazer a escolaridade possível «para quando isto da música deixar de dar». Disse-lhe que achava muito bem que se preocupasse assim com o futuro e ele lá continuou a explicar-me em que consistia o processo de criação de uma música nova e o pouco tempo que tinha para se dedicar a tudo o que não fosse a música e a escola. Por fim, explicou-me que aproveitava todos os bocadinhos para escrever as letras que iam encher as músicas que fazia em estúdio e acrescentou que era por isso que estava a olhar para mim na aula: «para escrever estas coisas, preciso de uma figura feminina que me inspire». Qual Tágide a inspirar Camões, ali estava eu, uma reles professora, a inflamar a veia poética de um jovem músico! Obviamente, agradeci-lhe a simpatia, mas não consegui evitar de pensar que aquele era um momento muito estranho...
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