Uma das partes engraçadas da profissão de professor é que aquelas coisas engraçadas que experienciávamos quando éramos alunos e que, para a maioria dos mortais, ficam apenas como memória dos tempos de escola, para nós nunca acabam verdadeiramente. Apenas muda o ponto de vista através do qual as vivemos. Por exemplo, hoje comemorámos a centésima lição numa das turmas e houve festa de arromba. Desde teatro, a coreografias, passando pela boa da paparoca, houve de tudo (inclusivamente uma sala de aula a precisar urgentemente de água e esfregona...). Enquanto escrevia o sumário no livro de ponto não pude deixar de pensar na mudança de perspectiva: tantas «lições cem» comemoradas como aluna, e agora eis-me aqui a presidir à minha própria festa. Enchi balões, pus mesas, comandei o ensaio geral da peça, ajudei à caracterização das personagens, ajudei a arrumar a sala... Tive um trabalho dos diabos! Contudo, também me ri com a representação, apresentei os actores, comi bolo brigadeiro (bem bom, por sinal!), aplaudi e participei como se aquela festa também fosse minha. E na realidade também era.
Detesto discursos dulcíssimos sobre a profissão docente, como aqueles que envolvem o quanto os alunos nos ensinam e a importância dos seus sorrisos. Tanta mariquice rebenta-me com os nervos. Prefiro evocar a profissão de professor como fantástica na medida em que nos permite nunca perder totalmente o contacto com uma realidade que, parecendo que não, ocupa muitos anos da nossa existência. Gostava da escola enquanto aluna e agora gosto dela enquanto professora. Posso passear pelo pátio, tal como naquela altura; posso ir ao bar, tal como naquela altura; posso escrever no quadro, tal como naquela altura. No fundo, muita coisa manteve-se... Mas claro que outras coisas mudaram e sendo verdade que hoje posso entrar em salas que antes me estavam vedadas, também é verdade que os decotes da aluna tiveram, na professora, de reduzir drasticamente de tamanho...
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