sábado, 18 de fevereiro de 2012

As cabras e o AO


Segundo o jornal Público, alguns investigadores britânicos descobriram que as cabras têm sotaques diferentes. Não sei muito bem como isto se concretiza, mas na minha imaginação observo já um desses bichos com um sotaque britânico muito armado, pedindo uma chávena de chá.  E se olhar com atenção, vejo ainda uma cabra cigana a arrastar as vogais e a tentar ler-nos a sina. Mas se me esforçar mais um pouco ainda consigo imaginar uma cabra lisboeta com aquele sotaque próprio da capital a dizer que dá «laite» em vez de «leite». Sim, porque quem acha que os lisboetas não têm sotaque está redondamente enganado. Temos e não é pouco (e já que estamos numa de sotaques, permitam-me a confidência: o meu sonho é um dia adquirir um sotaque nortenho. Do Porto ou de Viana do Castelo, não sou esquisita. Mas que lá para cima a nossa língua se torna mais bonita e mais musical, disso não tenho dúvidas.).

Mas como se não bastasse esta fabulosa e importante descoberta, parece que já há uns anos um outro investigador londrino (os ingleses devem ter uma secreta fixação pelos sotaques do gado) descobriu que «as vacas aprendem sotaques regionais diferentes ao mugirem». Grande coisa! A essa conclusão já todos nós tínhamos chegado! Ouça-se uma vaca açoreana. Alguém percebe alguma coisa daquele «muuuu»? Nada. Deve-se ao sotaque, claro, porque o mugido de uma vaca aqui do continente é muito mais compreensível. Atrevo-me, ainda, a dizer que o estudo está incompleto, já que não parece ter tido em consideração o estatuto social das vacas. Claro que uma vaca ali de Cascais vai ter um sotaque muito mais afectado do que uma da Amadora. Óbvio. E na Índia, onde as ditas bovinas são sagradas, ninguém percebe nada do que mugem, de tão armadas que são.

Parecem-me, pois, dois estudos fundamentais e que tanto as cabras como as vacas devem estar a aplaudir com os seus cascos catitas. Oxalá não venha de lá um Acordo Ortográfico, baseado no critério do som (como um que já tivémos o desprazer de conhecer...), que procure com afinco uniformizar a língua das bichas. Seria muito estranho as cabras começarem a berrar todas do mesmo modo. E a escrever, porque é certamente a última actividade secreta das ditas que falta descobrir, depois disto dos sotaques. Já quase imagino os volumes de literatura caprina nos escaparates das livrarias... Um luxo!

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