quinta-feira, 3 de maio de 2012

Manuais ao quilo

Nas últimas três ou quatro semanas recebi aproximadamente dezassete caixas com os novos manuais escolares para o próximo ano lectivo. Já faço uma ideia daqueles que vou adoptar, mas as editoras enviam sempre mais e mais e mais (curiosamente, aqueles que mais quero ver são os que nunca mais chegam...). Ora, não sei se vocês sabem, mas um manual nunca é só um manual. Cada vez que recebo na escola ou em casa uma caixa nova vêm de lá uns bons cinco quilos em papel, divididos pelo manual propriamente dito e pela parafernália que o acompanha: caderno de actividades, caderno do professor, guiões de leitura, caderno de planificações, um cd e um cd-rom. Em alguns casos até vem um dossiê A4. Resultado: não há prateleiras que cheguem nem que resistam a tanto peso. Nem há capacidade para analisar isto tudo. Vejo manuais fantásticos, muito bem pensados e feitos. Apetece voltar a estudar só para poder folhear e utilizar aquelas páginas deliciosas com alguns textos que me são desconhecidos. Mas assim, com tanta oferta, acabo por não conseguir olhar para todos eles com a atenção que merecem, o que lamento.

Tenho de reconhecer aqui o trabalho das equipas editoriais que se esfalfam para produzirem bons materiais (que sejam, ao mesmo tempo, vendáveis, porque isto é, acima de tudo, um negócio enorme). Quem trabalha com estas coisas diariamente percebe que há muito esforço na sua produção e os professores sabem bem que um bom manual lhes facilita imenso a vida, ao passo que um mau manual é uma cruz que se carrega durante alguns anos. Ainda assim não consigo deixar de me perguntar se será necessário tanto papel, tanta coisa, tantos cadernos, se não chegaria o livro e o caderno de exercícios. Quantos professores utilizarão, efectivamente, o caderno de planificações, que em alguns casos passa da centena de páginas? Gosto de receber manuais novos e percebo que haja um empenho enorme por parte das editoras no negócio que eles constituem, mas a determinada altura pergunto-me se não é um exagero. Receber dezassete manuais respeitantes a apenas dois níveis de ensino parece-me uma loucura. Desses só posso escolher um por nível, por isso sobram muitos preteridos. Enfim, faz parte do negócio e as editoras sabem disso. A mim resta-me arrumar na prateleira (sabe Deus qual, que já não há nenhuma livre) os que não escolherei e consultá-los sempre que necessário. Fora isso, só posso continuar à espera daqueles que efectivamente me vão fazendo mais falta e que tardam que se farta. É típico.

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