terça-feira, 30 de outubro de 2012

Viagem no tempo

De vez em quando gosto de voltar aos livros escritos a pensar nas crianças e nos jovens. Aliás, acho até que todos o devíamos fazer de vez em quando. A leitura das colecções que nos acompanharam enquanto crianças só pode fazer-nos bem. Os olhos com que lemos os textos já não são os mesmos e aquilo que retiramos ou que sentimos com cada livro é, também, diferente de tudo o que um livro nos pudesse dar na infância e adolescência.
 
Digo que vale a pena voltar a estes livros por várias razões. Por um lado são uma excelente forma de descansarmos os nossos cérebros assoberbados com informações vindas de todos os lugares. Por outro, é um exercício fascinante aquele que consiste em regressar às leituras que nos deliciaram noutros tempos, não só porque descobriremos que já não nos inquietamos como nos inquitávamos, mas também porque leremos de outra fora e, como tal, fruiremos o texto de modo muito diferente. Vale a pena, ainda, porque nunca somos demasiado crescidos para deixarmos de entender aquilo que em crianças percebíamos bem: se os livros da colecção «Uma Aventura» nos aqueciam o coração, não será a passagem dos anos que nos tornará imunes a tal reacção. Atrevo-me a arriscar que sentiremos sempre ternura pelos livros que nos acompanharam durante a nossa formação e que, portanto, relê-los só pode ser uma experiência positiva.
 
No sábado passado voltei à colecção «Viagens no Tempo», de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, e devo dizer que continuo a aplaudir tais textos. Li o volume Sabor a Liberdade, sobre a Restauração da Independência, em 1640, e aprendi coisas que não sabia. Os livros contêm sempre a história de uma viagem no tempo e, no final, umas páginas dedicadas a contar aspectos importantes sobre a época aludida. Se há informações básicas que ainda recordo dos tempos de escola ou de outras leituras, outras há que são novas e que se o são para mim, mais serão para as crianças e jovens que optarem por ler estes livros. Por exemplo, não fazia a menor ideia do que fosse um «barbeiro de espadas». Pois com este livro fiquei a saber, assim como fiquei a conhecer um pouco melhor o processo que conduziu os portugueses de volta ao trono de Portugal. Obviamente estes livros não são fonte suficiente para nos considerarmos efectivamente informados sobre alguma parte da nossa história, porém cumprem uma missão importante: a de mexer com a curiosidade. Com a nossa, já crescidos, e, esperemos, com a dos mais jovens.
 
Pelo que vou percebendo, existem hoje muitos miúdos que não têm esta colecção e a sua irmã «Uma Aventura» em grande consideração. Acham-nas aborrecidas e repetitivas, preferindo muito mais o Diário de um Banana. Todavia, parece-me que vale a pena apresentar ambas as colecções aos mais novos. Foram as colecções da minha meninice e ainda hoje gosto de ler os seus livros. Estão muito bem escritos e ensinaram, até hoje, muita gente a ler e a escrever. Por isso merecem que quem cresceu com eles torne a abri-los, a tirar-lhes o pó. Voltar à infância é possível através dos livros e essa é, parece-me, a melhor viagem no tempo que podemos fazer.


Nota: Imagem retirada da página da Wook.

1 comentário:

  1. Ai. Adoro "O Sabor da Liberdade"... E sim, ainda me lembro o que é um barbeiro de espadas, até porque acho que li esse livro bem mais de dez vezes. E o "Mataram o Rei", e o "Brasil! Brasil!". Que saudades! Acho que já disse por aqui que essa colecção foi o início da minha paixão por romances históricos :)

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