terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pelo meio do fumo

Não sei se sou só eu que reparo nisto, mas ultimamente até tenho ficado chocada com a quantidade de miúdos em idade escolar que vejo de cigarro na mão. Logo de manhã, quando ainda mal consegui abrir os olhos, cruzo-me com imensos rapazes e raparigas entre os doze e os dezoito anos que se dirigem para as suas escolas. Se àquela hora até o pequeno almoço me custou a engolir, não consigo mesmo compreender como conseguem eles fumar alegremente. Mais: preocupam-me as idades cada vez mais jovens com que o fazem.
 
Fumar, para os alunos das escolas básicas e secundárias, sempre foi uma maneira de se afirmarem, de se mostrarem rebeldes e mais velhos do que são na realidade. Quando eu andava na escola também havia meninas e meninos que traziam o seu maço de tabaco, tal como eu trazia dinheiro para comer na escola. No intervalo lá iam para o portão servir de chaminés, todos encostados ao gradeamento, como gente crescida (pensavam eles). As raparigas que fumavam eram as mais interessantes para os rapazes, parece-me. Julgo que seria por parecerem mais velhas (ah, o sonho da mulher mais velha...). Contudo, naquela época (e a crer pela quantidade de gente ao portão), não eram assim tantos os que fumavam.
 
Agora são imensos. Miúdos e miúdas que nem do sexto ano devem ter passado seguem para a escola às oito horas com o cigarro aceso entre os dedos. Procuram assumir uma postura de adultos, porém são traídos pelas conversas, pela voz, pelo aspecto. Têm doze, treze, catorze, quinze, dezasseis anos e são perfeitos pirralhos. Porém acham que a encher os pulmões com todo o tipo de porcarias são mais «fixes» e aceitáveis pelos seus pares. A mim parecem-me apenas parvos na figura e ignorantes pela atitude suicida que tomam ao acender um cigarro: aquele corpinho ainda a crescer deve precisar de tudo menos dos malefícios do tabaco, mais ainda logo de manhã (e em muitos casos, provavelmente, em jejum).
 
Além disto, surge-me sempre uma questão: em época de crise, quando o dinheiro é o assunto do dia, quem paga este vício precoce? Sim, porque um menino de treze anos não tem rendimentos que lhe paguem o tabaco. O dinheiro tem de vir de algum lado. Da semanada? Bem sei que ainda há quem receba disso, mas quem é o pai que dá uma semanada ao filho, sabendo que ele a gastará em cigarros? Haverá alguém?... Provavelmente sim, que neste mundo há sempre gente para tudo. E, se assim for, ainda fico mais chocada. Nunca tal coisa devia suceder. Alguém tem de pagar aquela porcaria, já que nenhum miúdo mantém o vício só com cigarros «cravados» aos colegas. Além disso, às oito horas da manhã e ainda antes de começarem as aulas duvido que aqueles meninos tenham «cravado» o que quer que seja. Portanto, só posso deduzir que o dinheiro, em forma de semanada ou não, vem dos pais ou dos avós. Santo Deus!
 
Torno a dizer: não sei se sou só eu a reparar nisto, mas não deixa de me chocar o quão ineficazes têm sido as campanhas contra o tabaco. Já no meu tempo de estudante se faziam inúmeros trabalhos escolares sobre os malefícios que dele advinham. Muitos perceberam a ideia e muitos fizeram ouvidos de mercador. Mas a julgar pela quantidade de jovens abaixo dos dezoito anos que vejo de cigarro em riste, hoje em dia são mesmo em maior número os ouvidos que não querem ouvir do que os outros.

1 comentário:

  1. a mim sempre me preocupou, e sinceramente nunca vi sentido naquilo que os miúdos faziam. não faço ideia de como alimentam o vicio, muitos talvez deixam de almoçar para poupar dinheiro para os cigarros. no meu 7º ano, os meus colegas começaram quase todos a fumar, e eu fiz queixa ao director da turma, porque era delegada de turma e não achava aquilo bonito. Houve uma reunião de pais, e muitos colegas deixaram de fumar, outros deixaram-me de falar, mas efectivamente resultou com alguns.
    infelizmente é uma visão matinal muito degradante e muito precoce. :/

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