quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Sobre o peso das mochilas e não só

Nos últimos tempos tem-se falado mais sobre o peso das mochilas dos alunos e, a meu ver, é bom que se fale disto e que se procurem medidas que tornem menor o peso carregado diariamente por crianças e jovens. Enquanto professora, agora sem leccionar, mas já com alguns anos de ensino em cima, vi mochilas que mais pareciam baús. Eram coisas extraordinárias de grandes e pesadas que mostravam ser. Vi alunos gemerem na horas de pôr a carga às costas. Note-se que os alunos de que falo tinham cacifos e mesmo assim carregavam este peso porque precisavam dos livros também em casa. Mais: enquanto professora ainda percebia mais o ridículo do peso carregado pelos alunos, já que eu também o carregava, ainda que apenas para uma disciplina (mas referente a diferentes níveis de ensino). Se eu, só com os livros de Português dos vários anos já andava sempre a puxar um malão, como andariam os alunos que chegavam a carregar sete ou oito manuais, mais os cadernos, os estojos, os lanches e o que mais fosse? Por isso, seja dividindo os manuais em volumes, seja reduzindo a gramagem do papel, seja de que maneira for, o peso tem de ser reduzido. Não faz qualquer sentido que a escola se preocupe tanto com tantas coisas e deixe de lado este elemento fulcral referente à saúde dos nossos estudantes. E, claro, as editoras também desempenham aqui um papel importantíssimo.

Pronto, a minha opinião está dada. E à senhora que ontem no Facebook, comentando uma notícia de um jornal sobre este mesmo assunto, dizia para os professores meterem os livros «nos c*****», apesar de já lhe ter dado a resposta de que precisava, a minha mensagem é de profundo lamento por ser tão, mas tão burra que até no peso das mochilas conseguiu envolver os professores. Quando lhe perguntei que culpa tinham os professores de que as disciplinas fossem muitas e os livros pesados, respondeu-me com um arrazoado qualquer sobre o filho com défice de atenção e tentou afirmar que a carapuça me servira. Nova resposta à altura, claro, e a profunda convicção de que se um dia voltarem os autos-de-fé ao Terreiro do Paço (ou melhor, à Praça do Comércio), os primeiros a arder serão os docentes. Eu não sei porquê, ainda não percebi, mas somos sempre os culpados de tudo o que não é bom. Agora vou só ali tentar perceber como posso enfiar os «livros nos c*****» e em que medida isso vai aliviar as costas do filho da senhora-pouco-inteligente.

7 comentários:

  1. É uma reflexão filosófica, vá :D
    Quanto aos livros, eu resolvia assim: não levava maior parte do material. Não era lá grande solução mas antes isso do que andar carregada o dia todo (e não tinha cacifo).

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    1. Pois, deve ser deve porque de outra forma torna-se difícil. :) Sim, no secundário fazia o mesmo: não levava a maior parte dos livros e fazia figas para que a colega de mesa levasse os dela de maneira a haver um livro por carteira. Também não havia cacifos, que coisa: carregados que nem mulas é que é bonito!

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  2. Estes guerreiros do teclado deixam-me de olho arregalado. Ainda bem que não tenho conta em redes sociais. Quanta mamã educada, que mimo!
    Eu também andava carregada, a minha mãe costumava dizer ao ajudar-me a pôr a mochila às costas que aquilo não era um peso mas um pesadelo.
    No secundário bastava um livro por carteira e pronto. Mas até lá levava tudo, inclusive a régua de 50 cm que saía de fora da mochila. Sim, reduzir a gramagem do papel já ajudava imenso.
    Não entendo o ódio que certos pais têm aos professores. É doentio e perfeitamente disparatado.

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    1. Eu às vezes pergunto-me se esse ódio de que falas não passa por um bom bocado de ciúme. Em primeiro lugar, muita gente acha que os professores são tipos que sabem muitas coisas e isso intimida. Daí que cada vez que um professor comenta qualquer coisa, apontam-nos imediatamente a mania da superioridade e quejandos. Mas além disso, ciúme porque os professores da escolaridade obrigatória têm, além da componente formativa, um papel importante na educação dos miúdos. Ora, esse trabalho educativo (que nós dispensávamos bem) é, em primeiro lugar, dos pais. Então eles devem pensar que nós nos estamos a intrometer naquilo que é o seu trabalho como pais. E como se não bastasse, ciúme porque não raras vezes, eles passam mais horas connosco do que com os próprios pais. Criam-se laços entre professores e alunos que são muito bonitos e acho que alguns pais, em vez de ficarem contentes porque essa relação tão positiva só pode ser benéfica para os filhos, sentem ciúmes e tentam lutar contra ela. Nós passamos tantas horas com eles que chegamos a ter de ensinar-lhes coisas do dia-a-dia que caberiam aos pais, mas que eles descuidam. Mas não percebo o ódio. A ideia era cooperarmos uns com os outros e não abatermo-nos mutuamente.

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    2. Percebo o que dizes, por outro lado há pais que despejam a responsabilidade parental no colo dos professores. Ora, assim não faz sentido (no caso deles, não no teu).
      Para outros, os professores são os culpados dos inúmeros trabalhos de casa, de se precisar comprar material escolar, de as crianças isto e aquilo.
      Ainda não consegui entender, em muitos outros países a tua profissão é reverenciada, como acho que deve ser. Aqui há esta coisa que não lembra a ninguém. Felizmente não são todos assim, há quem ainda não tenha perdido o juízo.

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  3. Deixo-te dois links. Provavelmente já os leste, mas em todo o caso aqui estão:
    http://observador.pt/opiniao/o-sonho-finlandes-dos-professores-portugueses/

    http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-06-28-O-bom-aluno

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  4. Absolutamente. Acho que esta luta só peca por ser tardia porque, de facto, é um disparate o peso que carregam diariamente. Depois parecem meios marrecos a correrem com as mochilas pesadonas nas costas. Tem mesmo de fazer-se qualquer coisa. Também sofri com isso nos meus tempos de estudante, no secundário comecei a deixar livros em casa e a ver pelo da colega de carteira porque não estava para carregar tudo de casa para a escola e vice-versa, já que nem sequer eram perto uma da outra. Acho que os cacifos deviam ser obrigatórios em todas as escolas e que a segmentação dos manuais em volumes mais pequenos seriam passos importantes a dar.

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