terça-feira, 7 de maio de 2013

Da minha inveja

Não ia com a intenção de comprar nada, mas é a história do costume: entra sempre um livro novo cá em casa. E quando não entra um, entram dois. Por isso da Fnac veio este Quadros Alentejanos, de Brito Camacho. Quem me conhece sabe que não resisto a um texto que retrate a vida nas aldeias portuguesas de agora e de antes. A paixão começou com Eça, mas sobretudo com o romance O Cónego, de A. M. Pires Cabral, que adorei e do qual já falei muito por aqui. Entretanto já comprei outros livros que tratam dessa temática, que procuram reproduzir as falas e os seres de pessoas que muitos tomam por ignorantes, mas que jamais o foram ou serão. Quadros Alentejanos já me tinha piscado o olho há uns dias, mas na altura resisti. Hoje, contudo, após folheá-lo mais atentamente percebi que o que ali estava era mesmo o que o título dizia: uma série de quadros que pintam sem tintas a realidade de uma zona rural, afastada dos grandes centros urbanos, com um tempo e um modus vivendi próprio e inimitável, feita da junção de muitas vozes e saberes, de muitas forças e vontades. Estes textos apaixonam-me muito mais do que aqueles que retratam as grandes cidades e a vida maluca de todos os dias. Essa eu conheço, a essa não associo nada de bom. Mas a vida do campo, a vida que saboreia os vários minutos de um dia, a vida que tem dentro dela muitas outras e onde o relógio abranda tanto que parece parar, essa atrai-me e recorda-me as férias de Verão de outros tempos. Na altura achava tudo mais mortiço, parado de mais, cansativo de tão apagado. Enganava-me. Essa era a vida colorida, a vida que vale a pena experimentar, a vida que permite olhar e reparar nas coisas. Aquilo que por aqui se vive está muito longe dessa pacatez quimérica que todos desdenhamos, mas que todos ambicionamos comprar.


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