quinta-feira, 23 de maio de 2013

A ervilha mirrada e a honestidade

Isto de ter andado em Letras torna a Feira do Livro no local de todos os encontros. Nos primeiros cinco minutos já tinha encontrado três pessoas que fizeram cursos em Letras na mesma altura que eu. Bom, o engraçado da história foi que a primeira pessoa que vi foi uma moça execrável, mais burra que a parede norte cá da habitação e infantil até à quinta casa. Na faculdade detestava-me a mim e a outra colega minha e, portanto, falava nas nossas costas, ria-se quando passávamos, incitava outros colegas a ignorarem-nos, enfim, merdas que universitárias não deviam já fazer, mas que ainda sucedem quando se trata de espantalhos com o cérebro do tamanho de uma ervilha mirrada.
 
A segunda pessoa que encontrei estava uns passinhos mais à frente. Foi minha colega, uma das primeiras que conheci, conversámos algumas vezes, mas nunca fomos amigas no verdadeiro sentido do termo. Quando nos encontramos trocamos umas palavras, mas só isso. Quando a vi hoje espantei-me porque não esperava vê-la a trabalhar numa editora. Conversámos um bocadinho e eu manifestei-lhe a minha surpresa por vê-la ali. Aí a conversa ficou muito mais gira. Ela respondeu:
 
- Sim, eu estou aqui porque estou nesta editora há mais ou menos um ano e meio. E a A. M. está ali mais abaixo.
 
Olhei para a zona para onde ela apontou e de onde eu vinha e respondi, muito calmamente:
 
- Pois, eu vi... Mas como na faculdade ela não me gramava a mim, eu também não a suporto a ela e ficamos assim.
 
A minha interlocutora olhou para mim durante uns segundos (acho que as mulheres já se vão desabituando destas honestidades, andamos sempre a fingir que nos adoramos umas às outras), assentiu, disse «É justo» e prosseguimos a conversa típica de quem já não se vê há muito tempo.
 
Moral da história: o bem que sabe chegar a certa altura e já não ter problemas nenhuns em apontar como monte de merda quem indiscutivelmente o é. O tempo de fingir que somos todas as melhores amigas, ainda que nos estejam a enfiar uma faca pelas costas dentro, acabou, ficou na adolescência e nos tempos da licenciatura. Depois disso, lamento, mas digo tudo, tudo, tudo. Já perdi muitos amigos a sério para ter de sentir-me na obrigação de apaparicar quem nunca me será nada para além de uma memória por quem sinto dó.

1 comentário:

  1. Este ano não vou ter feira do livro no Porto! :( mas estou mais ou menos feliz porque vai haver uma em Âncora! :) é pequenina, mas vale na mesma.

    ResponderEliminar