sábado, 4 de maio de 2013

Sem limites

Soube ontem de uma história passada numa escola pública muitíssimo conceituada de Lisboa que deixa arrepiado qualquer ser normal. Em rápido resumo, uma mãe foi à escola saber por que razão a filha de treze anos fora agredida fisicamente por uma aluna de dezassete dentro do recinto da escola. Isto aconteceu, note-se, depois de uma discussão típica de gajas em que cada uma tenta ser mais peixeira do que a outra (que me perdoem as peixeiras). Ora, no calor da discussão, a mais velha mandou a menina de treze anos calar-se e chamou-a de "gorda", ao que esta respondeu "gorda é a tua mãe".

Como todos os que já andaram na escola sabem, uma frase destas costuma dar direito a uma valente cena de pancadaria. Este caso não foi excepção. Assim sendo, como disse, a mãe da menina mais jovem foi à escola ver o que se passava. Quando chegou lá, viu a agressora da filha a fumar um cigarro ao portão e cometeu a enorme e inocente imprudência de ir ter com ela e de pedir-lhe que a acompanhasse ao Conselho Executivo para averiguarem o que acontecera. A menina disse que não podia porque estava a fumar e a mãe prontificou-se a esperar que ela terminasse. Surgiu, entretanto, vindo não se sabe de onde o namorado da menina que, imediatamente começou a empurrar a senhora. Num fenómeno tipicamente escolar, um monte de miúdos começa a cercar a mãe da menina de treze anos.

O marido da senhora esperava-a no carro e ao ver o que ali se passava foi até lá. E eis que um miúdo com idade para ser filho dele lhe dá um pontapé na barriga. Confusão e mais confusão, auxiliares a tentarem parar com aquilo, miúdos a fugirem... Enfim, um arraial.

A encarregada de educação lá foi acompanhada por uma auxiliar até ao Conselho Executivo. Ficou no corredor à espera de que a mandassem entrar. Nesse momento, a menina de dezassete anos aparece e atira-se ao pescoço dela gritando "Eu vou matar a tua filha!". Seguram-na pelos braços e lá continua ela a agredir a pontapé a mãe da colega em quem tinha batido horas antes. Quando a cena acaba, a encarregada de educação foi, finalmente, recebida pelo director. Aparentemente até agora nada foi feito para resolver o problema.

Digo há muitos anos que andar na escola nos dias de hoje é como atravessar uma enorme e perigosa selva. São muitas educações diferentes, muitas maneiras de ser distintas, muitos limites diferentes, impostos de forma díspar de pai para pai. São muitos problemas, frequentemente graves, a conviver no mesmo espaço e tanta diversidade gera conflitos desde há muito. Ainda assim, esta história deixou-me de boca aberta pela falta de limites destes miúdos que já nem passam sem pontapear e esbofetear os pais de uma aluna. Os miúdos sempre se bateram, mas havia um limite bem definido e esse eram os adultos. Se a mãe de uma colega com quem eu tivesse tido um arrufo fosse à escola tirar satisfações eu encolhia-me toda. Eu e qualquer outro colega. Agora, isso de ser adulto já não garante que não se apanhe uma sova à porta da escola. Choca-me que para alguns adolescentes bater em tudo e em todos seja a única solução para as frustrações. Se estes montes de esterco atrasados são o nosso futuro, então é oficial: estamos e estaremos na merda. Quando alguns dos adolescentes de hoje não conseguem arranjar dois neurónios que lhes permitam perceber que há actos que não se podem cometer, que para tudo existem limites e que não podemos seguir instintos primários e privar-nos da razão, estamos muito, muito, muito mal.

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