segunda-feira, 2 de julho de 2012

Desisto


Estão a ver este livro que comprei na semana passada e que comecei a ler este fim-de-semana? Pois é, desisto. A minha paciência tem limites. Cheguei à página cem e o balanço que faço é: isto é tão romance histórico como eu sou um centauro. Honestamente a sensação com que fiquei é que o que existe neste livro é um discorrer de matéria histórica sobre D. João VI e o filho, de tal modo que não nos permite criar empatia com as personagens, nem com o desgraçado do narrador que, uma centena de páginas depois, nem percebemos muito bem quem seja. Será um franciscano que participa na educação infanto-juvenil e depois na vida adulta de D. Pedro, mas como narrador participante é muito sem sal (pelo menos nas primeiras cem páginas que foram aquelas que li), já que sabe de tudo, mas manifesta-se muito pouco. Ou seja: parece uma máquina e não uma personagem que conviveu e criou laços com aquele de quem fala.

Creio que a autora partiu do pressuposto de que toda a gente conhece muito bem este momento da nossa história e da história do Brasil e portanto não forneceu informações que me parecem fundamentais para que a leitura deste texto flua sem que fiquemos confusos sobre, por exemplo, o paradeiro dos membros da corte. Houve ali um momento em que não conseguia perceber onde raio estava D. Pedro: no Brasil ou em Portugal? É que quando falam em Rossio, caso haja algum espaço com esse nome noutro país, parece-me importante explicá-lo em nota de rodapé. Foi apenas a minha intuição de leitora que me permitiu perceber certas coisas e nem sempre no momento da dúvida.

Depois, a constante inclusão de novos nomes na história merecia uma breve explicação sobre eles, parece-me. Um professor meu da Faculdade disse um dia a um anfiteatro cheio de meninos e meninas do primeiro ano da Licenciatura que quando escrevemos devemos ter em consideração que quem nos vai ler pode estar cansado e, portanto, não estará tão alerta como de costume. Isso deve orientar-nos na nossa escrita e no nosso objectivo que será, penso eu, o de que nos percebam sem precisarem de consultar uma enciclopédia antes de lerem o nosso livro. Parece-me que a autora não seguiu essa máxima. Em frases muito simples (demasiado para o meu gosto) vai pintando a história de uma figura história muito carismática. O erro foi, como disse, partir do princípio de que todos conhecem muito bem a personagem e o período em que esta se move. Percebe-se claramente que o livro é fruto de uma investigação histórica muito apurada. Contudo, a capa diz «romance histórico» e não «trabalho académico». Desse ponto de vista, não poderia gostar do que li.

Para além disso, o ritmo da narração é estranho. Se primeiro tudo avança vagarosamente (e quanto a isso nada a dizer), depois do casamento de D. Pedro o texto transforma-se num cavalo desgovernado. Avança tudo muito rapidamente, não dando o necessário tempo para que o leitor assimile a informação. Vejamos: se o que aqui está é informação histórica, mas se o que eu comprei foi um romance e não uma biografia, convém ser comedido no doseamento da informação. Pode haver quem goste destes ritmos desenfreados, porém eu não aprecio. Foi para isso que se inventou a descrição, que muitos odeiam mas que faz muita falta a um romance. Se fosse havendo descrição dos espaços e das personagens, o ritmo narrativo seria logo abrandado e mais fácil de suportar. Além disso, seriam boas algumas referências temporais mais claras. Por exemplo, se alguém chega com um novo documento importantíssimo para o avançar da acção e que o rei deve assinar, seria bom ter alguma referência temporal que permita perceber o que depois se segue. Também senti falta disso.

Enfim, decididamente não estava a gostar e às cem páginas percebi que mais valia desistir. Não creio que o defeito seja meu. Já li muita coisa, muitos livros bons, muitos clássicos e quando percebo que efectivamente o problema está em mim, admito-o (devo ter sido a única alma deste mundo a não amar Os Cadernos de Pickwick, de Charles Dickens, e aí admito que o problema está mesmo em mim). Já neste caso parece-me mesmo que existem problemas na construção daquele romance histórico. Apesar do esforço da autora, que se terá documentado bastante, o produto final não é, do meu ponto de vista, muito satisfatório. Por isso lá vou eu à estante procurar um sucessor.

2 comentários:

  1. Ohhh... Pronto, afinal também errei a pontaria. Eu bem disse que já tinha lido alguns que não eram bem romances mas mais relatos históricos. Mas já li tantos do mesmo tema que já confundo as capas e os títulos. Eu confesso que adoro a personagem. Vou tentar voltar a folhear os meus e depois digo-te, dos que li, quais são os mais romanceados :)

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    1. Já foi trocado. Alguém o apreciará mais do que eu. Detestei mesmo o livro. LOL :p

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