quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

«Treuze»

Parece-me tão mais fácil dizer «treze» em vez de «treuze». Por acaso existe alguma razão para, nesta vida, a palavra «treze» pronunciar-se com um «u» a mais? Melhor: existe lógica? É como aquela velha piada do «diz-se catorze ou quatorze?». E por que razão haveríamos de dizer «quatorze»? Por ser giro? Nem sequer isso! As palavras têm uma forma escrita e um modo de serem pronunciadas. Este varia conforme a proveniência do falante, mas até esta variação tem limites. Dizer «treuze» em vez de «treze» não tem nada que ver com o facto de a pessoa ser do norte ou do sul. É um erro e uma mania que vem, muitas vezes, de pessoas com habilitações literárias suficientes para não pontapearem a gramática dessa forma. O que acho fabuloso é que quando andava na faculdade poucos percebiam a lógica de se estudar português no ensino superior, já que a nossa língua todos sabemos falar. Ai sim? Têm a certeza?...

9 comentários:

  1. Filha,

    Infelizmente, mais dia menos dia, o «treuze» passa a ser norma e o «treze» a excepção. Sabe porquê? Porque a nossa língua é maioritariamente falada por jumentos. Aliás, creio que qualquer membro pertencente ao gado asinino trataria melhor o Português do que muito boa gente que por aí anda. Olhe... Dá dó! Mas é o que temos. É pena que estes vícios de línguagem estejam, muitas vezes, presentes nas camadas mais jovens da população (aquelas que têm precisamente a função e dever [nem só de direitos é feita esta vidinha...] de aprender e estimar a língua materna).

    Enfim, despeço-me com cumprimentos linguísticos,
    Filho

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  2. No Norte de Portugal diz-se sempre treze e nunca treuze, não conheço ninguém que diga treuze, ao contrário do que aí se afirma.

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    1. Anónimo, se ler bem o texto, eu não digo em momento algum que no norte se diz "treuze". O que digo é que é um erro que nada tem que ver com pronúncia do norte ou do sul. É um erro. Ponto. Há pronúncias menos correctas que se explicam por diferenças geográficas, mas esta não. É isso o que digo no texto e não outra coisa. Penso que me expliquei bem.

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    2. Eu tive uma PROFESSORA DE PORTUGUÊS que dizia treuze :/

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  3. Se eu me encontro hoje a escrever nesta pàgina (peço desde jà desculpa pelos acentos ao contràrio e outros defeitos mas estou a escrever num teclado estrangeiro) é porque tive uma dùvida se esta palavra näo se poderia escrever das duas maneiras. Aparentemente näo, e sò os "burros" é que teriam esta ideia ? O que é que fazem de todas as palavras que precisamente pelo uso se escrevem de duas maneiras? Loiro, louro, etc...
    E dos sucessivos acordos ortogràficos que fazem com que o português que aprendi na escola, hoje seja obsoleto ?
    Sem falar no facto (desculpem pelo erro) que houve uma época em que "a lingua materna" era mais parecida com o espanhol que com o português.
    Eu pergunto-me quem é que é burro. O Zé Povinho ou os Senhores Doutores Es Letras que mudam a nossa lingua como quem muda de camisa ?

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    1. Antes de mais, agradeço a sua visita e o seu comentário.
      Quanto à sua dúvida inicial, e depois de consultar mais do que um dicionário para confirmar que não me enganei, a palavra "treze" não tem dupla grafia. Assim, escreve-se e diz-se "treze" e não "treuze". Esta última "palavra" é um vício linguístico na boca de muita gente que mais não é além do fruto de um fenómeno fonético de inserção de um som no meio da palavra (a título de curiosidade, o fenómeno chama-se epêntese). Assim sendo, dizer "treuze" é um erro. "Louro" e "loiro" são questões diferentes.

      Quanto à palavra "facto", e uma vez que pediu desculpa por um erro que não cometeu, deduzo que julgue que perdeu o "c" com o Acordo Ortográfico. É uma dúvida comum, mas a palavra "facto" não perdeu esse som e continua a redigir-se como sempre pelo simples facto de que nós pronunciamos efectivamente esse som. E pode ver pela última frase que aqui no blogue eu ainda não sigo o AO, nem tenciono fazê-lo precisamente por discordar dele.

      Tem razão numa coisa: muitos doutores já fizeram muito mal à nossa língua. Tomaram decisões que não se compreendem e que vilipendiam gravemente o Português e as suas características. Mas também é verdade que uma língua está em constante mudança. Se assim não fosse, ainda falaríamos algo como o galaico-português, de que nos afastámos à medida em que definimos as nossas fronteiras enquanto reino independente.

      Felizmente, uma língua está em constante mudança, mas a gramática de uma língua não deixa de ser o compêndio das regras que a compõem. E se há regras, devem ser cumpridas. Na minha quixotada critiquei quem tem a obrigação de saber falar bem e não o faz por pura preguiça e falta de brio. Que algumas pessoas, sem estudos ou com determinadas características, cometam certos erros, até posso perceber. Mas quando se sabe e não se faz, não faz sentido.

      Uma vez mais, agradeço-lhe a visita.

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  4. Sou da região de Lisboa e nunca me apercebi que as pessoas dissessem treuze, no entanto julgo ser muito mais frequente ouvir trelze do que treze ou treuze, apesar de a unica forma correcta ser treze....não me parece é que seja um problema assim tão grave que justifique grande perca de tempo.

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    1. Se prestar atenção, verá que as pessoas dizem quase sempre "treuze". De facto, não é grave como a fome em África ou como as guerras no mundo, nem tão grave quanto ter escrito no comentário "perca" e, vez de "perda", mas este blogue não é o Expresso e portanto não trata só de coisas importantes.

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  5. Espanta-me que tanta gente comente, indignadamente, a pronúncia “treuze”, sem pensar ou sem saber que o fenómeno de acrescentar letras (epêntese) é antiquíssimo e ocorre desde o latim até aos dias de hoje.

    Muitas vezes, este fenómeno dá-se por analogia ou pelo cruzamento com outra palavra. É o caso, por exemplo, do “r” que entrou na palavra “estrela” (do latim “stella” com influência da palavra “astrum”).

    Mas este acrescento de letras verifica-se, muitas vezes, por uma questão de facilitar a pronúncia. A palavra “sobrancelha” surgiu, primeiramente, como uma expressão separada – sobre a celha. Com o tempo, tornou-se uma só palavra – sobrancelha, à qual foi acrescentada um “n” na sílaba “bran”.

    Por esta mesma razão, todos os brasileiros acrescentam a vogal “i” em palavras com grupos consonânticos que eles têm dificuldade em pronunciar: ab(i)soluto, ab(i)surdo, p(i)sicologia, ad(i)vogado, etc.

    Acrescente-se a tudo isto os três princípios na evolução fonética:

    Princípio da lenta evolução
    Princípio da inconsciência na evolução
    Princípio do menor esforço
    .

    Muita gente que diz “treuze” não tem consciência disso; fá-lo, portanto, inconscientemente, pelo princípio do menor esforço. Finalmente, pelo princípio da lenta evolução, poderemos ter, daqui a muito tempo, uma nova palavra: “treuze…





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