sábado, 15 de dezembro de 2012

Os Buddenbrook: o balanço

Acabei agora mesmo as seiscentas e trinta e oito páginas de Os Buddenbrook, de Thomas Mann, e já tenho saudades daqueles burgueses cheios de manias que achavam que o mundo era todo deles. Ao longo destas páginas, somos confrontados com personagens muito ricas do ponto de vista da caracterização e que mudam constantemente não mudando nada. Paradoxal? É mesmo. É que algumas personagens não são no fim o que eram no início, até porque é precisamente essa mudança o cerne da história. Porém, ainda que à sua volta tudo mude, elas seguem tendo as mesmas ideias e as mesmas manias. Esse é, creio eu, o motivo pelo qual se dá o declínio de uma tão poderosa família: porque todos os seus membros ficaram agarrados às ideias de uma época que foi acabando, acreditando que o nome pomposo que ostentavam era suficiente para vencer sempre. Contudo, o leitor apercebe-se bem de que o meio que envolve as personagens está a alterar-se irremediavelmente, embora estas não procurem adaptar-se às novas condições. Thomas Buddenbrook, o senador que termina o negócio da família, constata com desagrado que já nada é como era, porém nada faz para tentar adaptar-se à nova realidade: pelo contrário, segue gastando e vivendo como se estivesse cego para o que ia acontecendo.
 
Enquanto lia, lembrei-me algumas vezes de Os Maias, de Eça de Queirós. É que assim como o autor português nos vai entregando, ao longo do romance, pistas que evidenciam o declínio e o final que aí vem, também Thomas Mann enche o seu texto de pormenores que apontam inequívocamente para um desfecho pouco airoso de uma família que, a partir de determinado momento, vive mais da lembrança do seu nome do que dos seus feitos. É muito interessante observar as manias das várias personagens e o modo como, a partir de determinado momento, tudo corre mal. A futilidade que as caracteriza torna-se hipnotizadora e é uma das razões pelas quais há partes do livro que custam a largar.
 
Para quem gosta de histórias vividas no ambiente europeu do século XIX, onde as aparências superam o resto e onde as personagens ignoram que o mundo já não é o que fora no tempo dos seus antepassados, colocando-se assim a jeito para que o infortúnio e o desencanto apareçam em força, este é o romance ideal. É longo, mas lê-se sem qualquer dificuldade. A escrita é muitíssimo cativante pela simplicidade que a caracteriza. O narrador leva-nos na direcção daquilo que quer que percebamos bem, embora deixe as personagens paradas no mesmo sítio e a agir na total ignorância do que as espera. De quando em vez surge um rasgo de luz na cabeça de uma delas e questionamo-nos se virá aí a mudança que ainda os poderá salvar de um final pouco lisonjeador. Porém, mantêm-se teimosamente com a mesma atitude de superioridade indiscutível. Nós, leitores, assistimos ao seu triste espectáculo enquanto eles assistem à alteração da sua sociedade. A diferença é que nós sabemos ler os sinais e eles não.
 
Leiam que vale bem a pena.


Notita: A imagem saiu da página da Wook.

1 comentário:

  1. Pois, não devia ter visto este post:P Agora fiquei com vontade de pegar nos Mann (Montanha Mágica e Buddenbrook)-em 2013 é que vai ser;)
    Hoje é dia de "O Coleccionador de Mundos"

    Boas leituras;D

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