quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O Roberto

O Roberto é uma personagem que entrou na minha vida esta semana e que já faz o meu coração bater mais depressa... De tantos nervos que me provoca.

Ora imaginem-se nesta situação: estão a dormir o vosso primeiro soninho, o melhor de todos, e acordam repentinamente com a voz de alguém que fala sonoramente ao telemóvel num apartamento que deverá ser do prédio ao lado, a avaliar pela direcção de onde chega o som. Levantam a cabeça da almofada ainda meio totós e sem perceberem que porra está a acontecer e quem são vocês e han? Han? Han? (que são as sábias perguntas que nos ocorrem quando somos violentamente arrancados dos braços de Morfeu). Ao erguerem a vossa cabeça, percebem algumas frases que estão a ser ditas em voz bem alta: "Não voltas as desligar-me a p*** do telemóvel na cara, Roberto!" (frase repetida cerca de sete vezes seguidas e sem os asteriscos). Continuam em modo "troll" sem perceber em que terra estão e se ainda estão a dormir. Mas com a continuação do berreiro acabam por despertar e por tentar perceber quem é que raio está a montar um arraial às quatro da manhã (sim, leram bem, eram quatro da manhã).

Até agora sei pouco sobre a personagem que desconhece o que seja falar baixo e que também não deve saber o que é um relógio e, muito menos, deve saber ver as horas. Só sei que deve morar no prédio do lado, já que o som vem de baixo e da zona da cabeceira da minha cama (já viram a minha sorte?!) e, tendo em consideração que no meu prédio o apartamento de baixo é habitado por uma octogenária que tem um relógio de pêndulo, parece-me pouco provavel que ela grite com um Roberto às quatro da madrugada. Sei também que a menina que grita não gosta que o Roberto lhe desligue a chamada enquanto ela grita; que gosta de afirmar que ela não é uma das p***s do Roberto; que a relação está tremida ou fica tremida pelo menos três vezes por semana; que uma das frases favoritas da fofinha é "cala a boca, Roberto!" e pouco mais. Sei que da primeira vez estive sem voltar a adormecer das quatro às sete e tudo porque o Roberto se portou mal. Hoje estava eu no quarto a ler pacatamente a Anna Karenina e eis que subitamente o vulcão menina-histérica-mas-extremamente-apaixonada-pelo-Roberto entra em erupção e a saga recomeça. Excertos como "partir a cara", "não sou uma das tuas p***s" e "responde à minha pergunta, Roberto!" começam a subir pelas paredes. Aparentemente, a menina deve também estar a ensinar o Roberto a fazer um refogado, a julgar pela quantidade de vezes que me chega aqui o som "alho", mas agora que penso nisso acho que pode ser outra coisa. O que sei é que o Roberto está há mais de meia hora a ouvir a tipa aos gritos ao telefone e eu, que não sou o Roberto, tenho de ouvi-los também. O Senhor Gato e a Lady Gatinha estão em choque e de vez em quando levantam as cabeças com um total aspecto de quem já não tem fé nenhuma na humanidade. Tento explicar-lhes que o problema está só nos Robertos desta vida, mas eles já não acreditam. 

A julgar pela conversa da menina-que-julga-que-toda-a-localidade-quer-saber-quem-são-as-p***s-do-Roberto, este menino é um fresco! E eu gostava de lhe dizer umas coisas. Gostava de lhe dizer para pegar na menina e ir fazer o amor para longe daqui. Não só pouparia a sua paciência como os meus tímpanos e horas de sossego. Ou então que corra com ela de uma vez, que ninguém merece tanto grito. E se é um porco, ela que o mande às urtigas e vá gritar para outra freguesia que isto não é vida para ninguém!

Sempre pensei que, a ter um Roberto na minha vida, seria um gato chamado Roberto Anísio. Afinal sai-me este jeitoso. De facto, é melhor nunca criar expectativas sobre nada. 

Nota: Levei uns vinte minutos a escrever a quixotada pelo que o Roberto já está a ser desancado há quase uma hora... E continua! Façamos uma corrente de oração pelo Roberto (e por mim). 

2 comentários:

  1. Eu já tive uma doidivanas dessas no apartamento de cima, aquela que berrava que o mocoilo dela era porco e nojento e que havia qualquer coisa "de quatro", mas nunca se descobriu o quê (é um post antigo =P ). Agora tenho uns no lado que saltam as varandas e "rapinam" o vaso dos cactos.
    Por mais que a vida do Roberto me possa interessar, ninguém merece uma Ramona (também é um post xD) mesmo do outro lado da parede do quarto.
    ***

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    1. Desculpa: rapinam o vaso dos cactos????? Oh God! Está tudo doido???

      Pois, eu calculei que não fosse a única a ter uma louca a gritar com o namorado pela noite fora. O que não deve faltar por aí é gente sem consciência do ridículo, já para não dizer noção de que existem outros no mundo (humanos e gatos, que é o que importa :P ) que são perturbados cada vez que lhes dá a macacoa.

      Roberto & Ramona: dava uma dupla musical e pêras pá!

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