sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Crescer é difícil

Há algumas semanas falei com a mãe de um adolescente de dezasseis anos que me disse que em conversa com o filho, e depois de pedir-lhe que crescesse (devido às características da adolescência que a estavam a enlouquecer), o rapaz respondeu-lhe “Mãe, mas é tão difícil crescer!”.

Eu tentei explicar à senhora que é difícil, sim, mais ainda nos tempos em que vivemos, tempos em que os querem proteger de tudo até muito tarde, para depois, e de repente, lhes exigirem que sejam maduros. São tempos em que um adolescente tem, normalmente, os pais por perto a facultarem-lhe tudo o que podem, muitas vezes até de mais; em que são levados à escola, depois levados a casa até acabarem a escolaridade... Mas, no fim, os pais querem que os miúdos sejam independentes e desenrascados. Foi isto que tentei explicar à mãe e ela concordou comigo: de facto, hoje não é fácil crescer.

Ser adolescente é difícil. É muito complicado encontrar o equilíbrio entre o que os pais desejam e aquilo que os amigos e os pares querem que o adolescente seja. Muitas vezes, desejam-se coisas completamente opostas e por isso muitos adolescentes vivem uma angústia enorme por não conseguirem agradar completamente os pais (que exigem cada vez melhores notas, até porque cada vez proporcionam melhores meios para chegar a elas; que exigem um comportamento exemplar) e por não conseguirem ser exactamente o que os amigos esperam deles. Há um conflito que, numa idade em que tudo é confuso e doloroso, provoca não raras vezes a sensação de que é impossível existir sem estar a desiludir alguém.

E como se isto não fosse já complicado, os adolescentes ainda assistem a fenómenos que passam por um aumento inexplicável e inaceitável da violência entre eles. Noutros tempos, os problemas por namorados ou namoradas podiam passar por uma bofetada com o/a rival. Agora são murros e pontapés na cabeça dados por mais do que um agressor, enquanto alguém filma e faz desaguar o vídeo nas redes sociais, perpetuando ad eternum a agressão. Aquilo a que todos assistimos quando estas imagens chegam aos canais de televisão e voltamos todos a conversar sobre o mesmo é assustador: é a perda de qualquer respeito pela vida do próximo e é o desejo muito animal e narcisista de mostrar superioridade pela violência. Pelo meio está o pontapeado e o esmurrado a tentar defender-se como pode, provavelmente consciente também de que mais tarde verá o vídeo da sua agressão ser enviado entre amigos, comentado, classificado com “likes”, parodiado... Às nódoas negras somam-se as feridas emocionais que isto provoca em qualquer ser humano, mas que serão sempre maiores em alguém que está naquele limbo esquisito entre a infância e a idade adulta.

Apareceu, como todos já devem ter visto, mais um vídeo com agressões entre adolescentes. Desta vez foi filmado em Almada. No resto, é em tudo igual ao que já vimos: murros, pontapés e uma câmera que filma tudo para a posteridade. Os adultos assistem boquiabertos, os pais de filhos adolescentes tremem com o que vêem e rezam para que nunca tal lhes bata à porta, os que foram adolescentes há pouco tempo sabem que isto acontece e já nem estranham muito. Quase todos esperam castigos pesados, sabendo secretamente que neste país de brandos costumes eles nunca chegam. 

É importante prestar atenção ao que se passa com os nossos adolescentes. Crescer nunca foi fácil, mas sempre foi tido como inevitável. Agora, o crescimento é constantemente adiado (é-se adolescente até mais tarde) e pelo caminho espera-se que o jovem assuma uma série de papéis que entram em conflito com muita frequência. Como disse, conjugar redes sociais, amores, amigos e família (com as expectativas desta gente toda e as possibilidades que hoje em dia têm) é extenuante. Mas nada, absolutamente NADA, justifica a violência selvagem, absurda e vergonhosa a que assistimos nestes vídeos. É preciso educar esta gente, facultar-lhes terapia, pô-los a pensar no que é um ser humano e o respeito que ele merece. É preciso punir exemplarmente quem faz estas coisas (bem como quem as filma) e sarar as feridas a quem as sofre. Crescer é difícil, mas não deve ser impossível.

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