domingo, 22 de janeiro de 2017

Mudar ou morrer?

Ontem fomos ao supermercado ao lado de casa e vi lá uma senhora idosa da minha zona que já não via há muitos, muitos anos. Ao olhar para ela e reconhecê-la, mais velha ainda do que me recordava, e consciente de que já não a via há mais de uma dezena de anos, pensei com os meus botões «Esta senhora ainda é viva!». Sim, ao nível do óbvio eu sou fenomenal, mas adiante.

Ora, isto levou-me a pensar numa coisa estranha: quando passamos muito tempo sem ver alguém jovem (ou mais ou menos jovem) da nossa zona e depois encontramos essa pessoa, dizemos para nós mesmos «Afinal ainda mora aqui!». Porém, quando se trata de uma pessoa mais velha que passámos muitos anos sem ver, o espanto é mesmo por ela ainda estar viva, porque a julgávamos morta. Só isso justificaria o facto de a não vermos. Dei por mim a pensar nisto e a concluir que envelhecer é uma porra. Se nos descuidamos muito, as pessoas pensam que morremos e «limpam-nos» das suas bases de dados com muita facilidade. Um idoso, por esta ordem de ideias e nas nossas cabeças, nunca pode mudar-se: só morre. É estranho perceber como pensamos. E pensamos de forma muito estranha.

4 comentários:

  1. Realmente... Somos um ser um bocado mórbido. Só isso justifica aquelas criaturas que param para ver um acidente.

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    1. Ui, esse fenómeno tão português em que um acidente tem mais assistência do que o circo no Natal...

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  2. Nunca tinha pensado nisso. Tens toda a razão.

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    1. É tão estranho e tão triste. Parece que inconscientemente achamos sempre que os mais velhos já morreram. É terrível.

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