sexta-feira, 13 de abril de 2018

O primeiro dia do resto das nossas vidas

Depois de um mês e dez dias de internamento, o meu pai regressou hoje a casa. Ainda está fraquinho e o corpo ainda pede um considerável caminho de recuperação, mas pelo menos já o pode fazer junto da família num ambiente mais acolhedor do que o de um hospital.

Foram tempos difíceis estes. Foram avanços e muitos recuos, com cada dia a ser uma surpresa, sendo alguns um enorme pesadelo. Foram várias estadias nos Cuidados Intensivos, foram reveses de mais para quem já tinha sofrido tanto. Foram muitos dias em que o caminho para casa depois da visita foi feito em silêncio porque já nem se sabia o que dizer em cima de tudo o que os olhos tinham visto. Foram tempos de muito cansaço, mas também de muita esperança. De muita Fé. Descobre-se neste momentos duros que, de facto, a mesma Fé que nunca se entende nos outros é a que nos ajuda quando o temor aperta. É preciso acreditar que vai correr tudo bem, mesmo quando parece correr tudo mal e a Fé ajuda-nos muito nessas alturas.

O beijo que no Dia do Pai ficou adiado foi dado hoje. Com uma máscara pelo meio, é certo, mas que mais posso pedir? Tenho o meu pai comigo, a melhorar, e com perspectivas de uma vida nova. Não posso pedir mais nada. Um dia poderei tirar a máscara, mas até lá continuaremos juntos a percorrer o caminho que falta até ao momento em que a doença e o medo do fim sejam só uma má e longínqua lembrança.

***

Neste que é o primeiro dia das nossas vidas, quero agradecer de coração à Unidade de Cuidados Intensivos e à Unidade de Transplantes do Hospital Curry Cabral. Aos médicos que cuidaram do meu pai, àquele que o operou e de quem desconheço o nome, aos enfermeiros que estiveram disponíveis sempre que solicitados e aos auxiliares que fazem trabalhos tão difíceis com um sorriso na cara e uma palavra amiga. Agradeço também às meninas da copa, que cantavam e animavam os doentes no momento da distribuição das refeições. Agradeço de coração a todos os que de alguma forma me ajudaram a ter o meu pai em casa hoje. Todos foram importantes e todos serão guardados no meu coração para sempre. 

Mas o maior agradecimento vai para a Doutora Mariana Cardoso, médica de Gastro no Hospital Fernando Fonseca. Por nunca ter desistido, por ter persistido e remado contra a corrente, por ter acelerado o processo todo, por estar um passo à frente do que ainda estava por chegar, por ter sempre as palavras certas para com um doente já esgotado e para com uma esposa devastada. A ela devemos-lhe tudo. Mesmo tudo. E talvez muito que nem sequer chegámos a saber. É muito bom encontrar tanta humanidade, tanta empatia numa médica tão jovem e que ainda tem tanto para dar à sua profissão. Vi-a duas vezes apenas, mas sei que fez tudo pelo meu pai e a minha gratidão por isso é imensa e eterna. 

No fundo, embora muito ainda esteja por vir, por agora respira-se de alívio e sente-se uma gratidão enorme por tudo o que foi feito por uma só pessoa. Diariamente, os hospitais fazem outro tanto por outros doentes. Cada vez que se cortam as verbas para a Saúde, crianças, mulheres e homens como o meu pai ficam um bocadinho mais longe de regressarem a casa. O nosso SNS, que tanto nos põe os cabelos em pé, tem a trabalhar nele gente muito, mas muito competente, que merece ser bem recompensada pelo trabalho difícil que desempenha. Para que um doente possa encontrar uma nova vida no final de um internamento, uma enorme máquina tem de trabalhar e todos têm estar em sintonia. Médicos, enfermeiros, auxiliares e muitos outros funcionários têm de cooperar para chegar a bom porto. Não é fácil, há dias muito duros, mas acredito que a grande maioria dá o seu melhor para que todos os pacientes tenham um dia que possa ser chamado de «o primeiro dia do resto das suas vidas».

Obrigada, de coração, a todos.




3 comentários:

  1. :)))
    Atingirá a meta com passos curtos, mas firmes.
    Que os momentos de "tambor estilhaçado à altura do peito" estejam a ficar para trás.
    Beijinhos.

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