quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A Peregrinação do Rapaz Sem Cor - o balanço


O balanço será estupidamente rápido: se Murakami, o muitas vezes denominado «eterno candidato ao Nobel», é isto, então desisto já. Que pobreza de livro! Que coisa medonhamente fraca, cheia de lugares-comuns e psicologia de pacote. No início ainda parece ter pernas para andar, mas depois a coisa fica inverosímil e, sejamos honestos, estúpida. O tipo super desinteressante descrito no início do livro aparece em determinada altura quase como um Don Juan por quem toda a gente teve um fraquinho. E afinal também era bonito. E rico. E, acrescento eu, chato como tudo. Mas também assim combina perfeitamente com o resto da história. Não aconselho.

5 comentários:

  1. :)

    Confesso, estava muito curiosa para saber o que acharias do livro ;)

    Eu gosto muito de escritores japoneses, infelizmente quase todos mortos, mas nunca li nada de Murakami. Perdi tempo, eu que prezo tanto o meu tempo, a ler passagens de vários livros e fiquei por aí. Gatos falantes a cair do céu, uma quase obsessão com noodles/massa, com orelhas, não são o meu género. Sobretudo se esses temas forem constantemente revisitados.
    Achei sofrível.

    Li há anos um artigo que tentava explicar o seu sucesso mundial: no Japão é visto quase como ocidentalizado e por isso interessa-lhes, no Ocidente passa por ter uma escrita muito fiel à literatura japonesa.

    Há sumidades de crítica literária que dão aos seus livros o máximo de estrelas e satélites. Para mim, não dá.


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    1. Horroroso. Se o resto dos livros dele forem assim, então não percebo mesmo a fama que conquistou e a sua referência como um possível candidato ao Nobel. Criar situações que ultrapassam a realidade é uma coisa, deixar pontas soltas ou mal unidas é outra e este livro tem-nas do início ao fim.

      Como disse, o ponto de partida até parece promissor, mas depois parece que o autor não soube trabalhar a partir daí ou que criou a história apenas como lhe era conveniente, não tendo em consideração que assim haveria aspectos completamente desajustados àquilo que são a realidade e as relações humanas. São disparates monumentais. Se fossem pequenos pormenores de “surrealismo”, a coisa levava-se, mas são somente aspectos em que o nosso conhecimento da realidade choca com o que é descrito no livro. As pessoas não são assim, não agem daquela maneira e as personagens não parecem solidamente trabalhadas.

      E, como se não chegasse, a fixação pelo sexo “só porque sim” Sonhos eróticos que não trazem nada à história, um devaneio homossexual que depois não traz nada ao enredo (ainda pensamos “espera lá que ele agora é capaz de fazer aqui qualquer coisa interessante”, mas não faz e o sonho fica lá a boiar, sem grande relação com o resto)... Olha, não gostei nada e não me sinto nada tentada a regressar a este autor. Só gostava de compreender o destaque todo (e tão positivo) que lhe dão!

      Ando para te escrever um e-mail, mas sou uma preguiçosa. Até o blogue anda meio parado devido à preguiça. Mas ele haverá de sair! :)

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  2. Nas palavras muito certas de Tarkovsky: Um livro lido por mil pessoas é um livro mil vezes diferente :)

    Não tenho nada contra surrealismo, um dos livros da minha vida é "O meu corpo e eu", de Crevel; e gostei muito de "O arranca corações" e de "A espuma dos dias", de Vian.
    Muito menos contra gatos falantes, basta pensar no de Bulgakov :))

    No entanto, o que H. Murakami (não quero ser processada pelo outro Murakami) faz não é, para mim, surrealismo.

    Na verdade, nada me agradou.
    Palha e insipidez.

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    1. Toneladas e toneladas de palha. A mesma ideia, as mesmas conclusões repetidas até à náusea. Não imaginava que fosse assim. É um autor muito falado e, acho que por isso, imaginava uma escrita diferente.

      Quando falei em surreal não me referia ao movimento estético propriamente dito. É que nem nesse ele se encaixaria! Queria referir-me ao facto de ele criar situações que ultrapassam a realidade, mas não de forma positiva ou bem conseguida. Há muitos escritores que imaginam situações que ultrapassam os limites da realidade. A diferença entre eles e este autor é que os primeiros fazem-no com um propósito bem definido e esse ultrapassar da realidade acrescenta valor ao texto. No caso de Haruki Murakami, neste livro que li, há vários momentos em que senti que estava a ler uma coisa descabida que não tinha ligação com nada. Se ele tinha uma ideia clara do que queria, deve ter ficado dentro da sua cabeça e não passou para o livro. Parece-me que a construção do sentido que todo o leitor tem de fazer torna-se missão quase impossível com tantas coisas que parecem estar fora do lugar.

      Ainda não coloquei no blogue, mas comecei a ler o “Diário de um Zé Ninguém” e já vou quase a meio. Tem-me recordado os diários de Adrian Mole, cheios de detalhes muito pouco “épicos”. 🙂

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  3. Esse que lês está na lista. A colecção de Ricardo Araújo Pereira agrada-me muito.
    Eu leio "Os crimes do Amor", de Sade.
    Estamos em polos opostos :)

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