terça-feira, 14 de junho de 2016

É triste

A Feira do Livro acabou há um dia e já tenho saudades. Não há dúvida de que Lisboa fica bem mais bonita com aqueles pavilhões coloridos no Parque Eduardo VII. 

Claro que nestes dias em que a Feira esteve aberta ouvi de tudo. Desde o “Ainda não fui lá.”, passando pelo “Tenho muitos livros para ler e por isso este ano não vou.” até ao mítico “Não gosto nada de ler.”. Felizmente, também falei com pessoas que gostam efectivamente de ler e de conhecer novos livros. 

A minha relação com a Feira é já antiga. Normalmente a minha irmã ia lá comigo uma vez e podia trazer um livro. Lembro-me de uma vez em que fui com a minha mãe e uma prima. Era eu tão teenager que comprei... um Nicholas Sparks (vá, gozem). Entretanto fui crescendo e muitas vezes namorei a Feira quase de longe, com pouquíssimos tostões no bolso para lá gastar. Era estudante e isso significava que não tinha rendimentos para gastar em livros. Nessa altura nem tinha muitos livros em casa. Ou melhor: tinha uns quantos, mas não eram as coisas de que mais gostava no mundo. A minha irmã lá me oferecia uns livros de vez em quando. Foi dela que veio O Principezinho e os Diários de Adrian Mole. Facilmente se percebe que foi grande o seu contributo para me transformar numa leitora. Também vi sempre a minha mãe a ler, sobretudo policiais (curiosamente, é coisa que aprecio pouco). O meu pai lê diariamente jornais, mas livros nunca.

E assim fui crescendo até ter o meu próprio dinheiro e poder gastar uns trocos em livros. É dinheiro que não gasto em viagens, em roupa ou noutras coisas. Se calhar se deixasse de comprar livros teria uns trocos valentes, mas não seria a mesma pessoa. Se passasse o período da Feira sem ir lá, não seria MESMO eu. Acho que me sentiria parecida com aqueles que dizem que “não gostam de ler” (a frase mais parva de todos os tempos porque é mais ou menos como dizerem que não gostam de respirar). A Feira não é, para mim, um supermercado de livros a céu aberto. É, sim, uma experiência que gosto de viver anualmente. Gosto de ver as novidades e de estudar as promoções; gosto das barraquinhas com paparoca; gosto dos alfarrabistas; gosto de quase tudo na Feira e é por isso que quando acaba sinto mais ou menos o mesmo que um brasileiro no final do Carnaval. 

É por isso uma pena que eu sinta tudo isto e outros nada sintam. Passam o ano sem saber o que é um livro, sem ler nada que vá além do seu material profissional (ou às vezes nem isso)... Parece-me pouco. Com tantas vidas livrescas que podem caber na nossa vida, é uma pena que se troque isso pelo nada. E tantos que dariam tudo para poder ler e não podem. É triste. 

1 comentário:

  1. Deixa uma certa nostalgia quando a Feira do livro termina, não é? Dá sempre vontade de lá passar, todos os dias, para ver os livros, cheirá-los e senti-los =) Adoro andar pelas bancas a ver se encontro o próximo grande livro.
    Parece muito estranho quando ouço alguém dizer que não gosta de ler. Quase nem parece humano. Mas cada cabeça, sua sentença. Nunca se sabe se essas pessoas apenas não tiveram quem lhes cultivasse esse gosto ou, simplesmente, porque não encontraram "o" livro. Ainda =)
    ****

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