sábado, 27 de abril de 2013

Ogres

Já falei aqui dos meus vizinhos de cima. Creio que na altura os chamei de cavalos. Bom, essa quixotada merece uma correção para ser verdadeiramente justa. Os meus vizinhos não são equídeos: são ogres. E são dos mais «nharros», idiotas, apoucados, ignorantes e indelicados que este mundo já viu. Até o Shrek se encolheria de vergonha perante tamanhos imbecis a representar a espécie.
 
Estes reais atrasados mentais têm a delicadeza de um mamute numa loja de cristais. A verdade é que os mamutes estão extintos, o que diz muito sobre o que subjaz à minha comparação. Na realidade, um dos meus maiores desejos é a extinção daqui para fora da família de ogres que tenho o azar de ter a viver por cima de mim. E porquê? Por isto:
 
Quando vieram viver para o andar de cima, até eram pessoas pacatas. A família era numerosa, já se sabia, mas limitavam-se a fazer algum barulho com mobílias por volta das nove da noite. A coisa confundia um bocadinho uma vez que, durante as mudanças, pouco ou nada os vimos trazer para cima. Sempre acreditámos que, perto da hora de dormir, abriam sofás e camas desmontáveis. Ainda hoje mantenho essa suposição.
 
Com o tempo o barulho foi aumentando. Muito. Todo o prédio teve a oportunidade de perceber que esta gente não é mais do que uma cambada de ignorantes mal educados que para onde vai monta a tenda e os outros que se lixem. Na noite de quinta para sexta, um dos retardados que dorme por cima do meu quarto pôs, como vai sendo costume, o telemóvel no chão para o despertar. Então às 3:55 da madrugada EU acordei com um telemóvel a vibrar e a tocar mesmo por cima da minha cabeça. Virei-me para o lado, pensando que a pessoa se levantaria e que o barulho ficaria por ali. Pois sim. Dez minutos depois berra o alarme outra vez e o ogre lá se levantou. Andou, andou, andou, arrastou este mundo e o outro e eu, às seis da manhã, pude finalmente voltar a adormecer. O melhor é que por volta das cinco saiu alguém. Pensei «Bom, vai trabalhar e agora fica tudo em silêncio.». Uma porra é que ficou! Dez minutos depois a alma que saiu voltou. O que raio vai uma pessoa fazer à rua durante dez minutos às tantas da manhã??? Despejar o lixo???
 
Esta noite acordei às cinco da manhã e novamente dez minutos depois com o mesmo desgraçado telemóvel a despertar o vizinho. Ninguém merece isto. E o pior é que nem dá para chamar a polícia. Vou dizer o quê? «Ah e tal, o telemóvel do vizinho acordou-me»? Não me parece.
 
O que também consegui verificar com isto é que os meus desejos não têm poder nenhum. Se tivessem e com as coisas que desejo àquela gente durante a madrugada, enquanto estou acordada por causa deles, pelo menos metade deles já teria um corno num sítio muito desagradável e doloroso. Pelo modo pimpão como caminham de casa para o café e do café para casa, não me parece que tal apêndice já lhes tenha nascido. É uma pena.

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