quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Há algo de podre no reino do Arco do Cego

O Daniel Oliveira (um dos comentadores do programa «Eixo do Mal» publicou na sua página de Facebook uma fotografia do Jardim do Arco Cego, tirada ontem à noite. O grande problema do Jardim é que está completamente conspurcado com copos e mais copos de imperial que foram para ali esquecidos depois do que parece ter sido uma valente festivalada de verão. Mas não, não houve festival nenhum, nem bandas conhecidas a actuar: houve apenas mais um dia de um costume que deve saber muito bem, mas que não justifica a miséria em que fica aquele espaço público. 

Se algum de vocês já teve a oportunidade de passar naquela zona depois das dezasseis horas, mais ou menos, verificou com certeza que existem muitos jovens espalhados pelo Jardim do Arco do Cego e concentrados no passeio em frente a dois cafés que, pelo que percebi, vendem copos de imperial a cinquenta cêntimos. São mesmo muitos, acreditem. Já lá passei algumas vezes depois dessa hora e é um local que chama a atenção de quem passa por estar tanta gente concentrada no mesmo sítio ao mesmo tempo e geralmente segurando a mesma coisa: um (ou mais) copo(s) de cerveja.

Vejamos: não tenho nada contra este tipo de convívios. Todos nós no tempo em que estudávamos participámos em convívios destes, provavelmente com menos gente do que acontece ali, mas participávamos. Acho muito bem que se encontrem durante a tarde para conversarem e para beberem uma cerveja. O que não me parece normal é que o espaço por eles ocupado termine assim:


Nota: A foto foi retirada da página de Facebook do jornalista Daniel Oliveira, depois de já ter sido partilhada por outros utilizadores da rede social.

Nos comentários à publicação em que o Daniel Oliveira chama a atenção para este problema já há de tudo. Desde moradores indignados que dizem que lutam contra esta situação há muito tempo, passando por gente que aproveita isto para atacar os universitários e pelos próprios estudantes que, não raras vezes, se manifestam querendo mostrar que este país não é para jovens porque se critica um encontro saudável ao final da tarde. Também já houve muita gente a ir dizer que os serviços da Câmara, pagos com os impostos de todos nós, servem é para limpar isto e quem, dando uma lição de civismo, afirma que, para não abandonar o seu lixo à sua sorte, anda com um saco de plástico para apanhar tudo antes de ir embora. Claro que com uma coisa destas nunca poderia haver apenas uma interpretação das coisas. Quem ali comprou casa e vive com isto à porta do prédio nunca imaginou que tal viesse a acontecer. Para muitos dos alunos que ali se reunem, isto só acontece porque há poucos caixotes do livro. Há quem até já pergunte, bastante estupidamente diria eu, se quando vamos ao restaurante também levamos sacos para o lixo. Enfim, quando não há argumentos que justifiquem esta javardice, vale tudo...

Parece-me que os cidadãos, porque é de cidadãos que falamos sempre, que tentam fazer passar esta situação por algo normal que acontece porque os caixotes estão cheios não estão bem a perceber o que se lhes quer dizer. Levam a fotografia e o que ela procura mostrar como um ataque pessoal sem pararem para pensar que não há nada de pessoal nisto. O Jardim do Arco do Cego é tão público para eles estarem, como para os moradores da zona estarem com as suas crianças, os seus cães ou sozinhos. Ou mesmo para outros cidadãos passarem por lá. Só porque custa muito ir procurar outro caixote do lixo ou guardar os copos vazios num saco levado para o efeito, as outras pessoas têm de aturar isto? Querem encontrar-se? Façam-no! Querem imperial barata? Encham-se dela até deitarem fora, mas não lixem os outros. E, sobretudo, sejam todos homens e mulherzinhas e assumam que este panorama é nojento e só contribui para dar má imagem aos estudantes do superior (que, felizmente, não são, nem de perto nem de longe, um bando de javardos inconscientes como alguns parecem pensar). Imaginem uma coisa destas à porta da vossa casa e digam-me se gostariam de uma paisagem assim.

Saúdo, claro, todos os que são diferentes e procuram limpar o seu próprio lixo. Ainda que muitos queiram pôr todos os estudantes no mesmo saco, as coisas não são bem assim. Há quem limpe e não bufe. É como com os donos de cães: a maioria dos donos que vejo apanha as cacas dos cães, mas há sempre quem ache que a vida são só direitos e nenhuns deveres. 

O que é importante é que isto pare. Há quem diga que são precisas campanhas de sensibilização para que os meninos e meninas que frequentam o Jardim do Arco do Cego tenham a hombridade de colocar o lixo que fazem nos caixotes do lixo. Eu acho um bocado ridículo ter de andar a fazer campanhas de sensibilização como se faz com as crianças pequeninas, mas desta vez dirigidas a gente que anda de traje académico. Acho que até o mais apoucado dos estudantes sabe que o lugar do lixo é no lixo. Mas há quem avance com outras ideias. Cheguem a que solução chegarem, acho que importa ver que a cidade não é um caixote do lixo e que é de muito mau tom ou mesmo de grande prepotência deixar um jardim todo sujo só porque a Câmara tem a obrigação de limpar. Se evitarem esta bagunça, os serviços de limpeza não precisarão de dedicar tempos infindos ao jardim, podendo passar mais rapidamente para outras zonas da cidade. É só pensar um bocadinho que se chega lá. Acredito que ao fim da quarta imperial já custe um bocadinho, mas vá: muitos deles até devem ser bastante bons a matemática*. 


*Pelo menos percebem que imperial a cinquênta cêntimos é uma pechincha!

3 comentários:

  1. Mais um caso de educação, desresponsabilização, desculpabilização etc, etc. Puro umbiguismo.
    Mesmo que essa situação se desse num descampado, continuava a ser uma nojice, uma falta de noção a vários níveis, incluíndo a ambiental e de desrespeito por todos.
    Agora temos que ensinar o abecedário a estudantes universitários? O que andamos a fazer?!?

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  2. Eu acho extraordinários os argumentos que vi no Facebook para tentarem justificar o facto de o jardim estar assim. São de uma falta de noção e de uma prepotência que até assusta! Não limpar porque isso é tarefa dos serviços da CML??? Criticar quem diz que aquilo não pode acontecer e que devem levar sacos para o seu próprio loxo perguntando se quando vamos ao restaurante também o fazemos??? Li um comentário em que um cidadão tentava explicar ao génio da batata a diferença entre um restaurante e um jardim público. Há quem fale sobre acções de sensibilização para os estudantes perceberem que devem respeitar aquele espaço. Mas além de ne parecer estúpido andar a educar gente que não tarda é licenciada e mestre nisto e naquilo, pensa comigo: se eu tenho 31 anos e já fiz parte da geração que ao longo da escolaridade mais foi sensibilizada para as questões ambientais, estes jovens (que na maioria serão mais novos que eu) também fizeram uma escolaridade cheia de matéria e campanhas voltadas para o meio ambiente, com distinções eco-escolas e tudo. Agora esqueceram-se de tudo? Multem-nos que eles lembram-se.

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  3. Na resposta ao teu comentário, onde está "loxo" lê "lixo". Estou no autocarro a escrever no telemóvel: tinha de dar nisto. Sorry. 😞

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