Se ainda não leram O Estranho Caso do Dr. Jekill e do Sr. Hyde e outros contos, corram a lê-lo. O primeiro conto, «O Furta Cadáveres» é muito bom e parte de uma história de que alguns já ouviram falar e que aconteceu mesmo. O segundo conto, confesso, foi um pouco aborrecido. Esperava que alguma coisa surpreendente sucedesse e me agarrasse finalmente ao enredo, mas tal não aconteceu. Agora, o famoso conto que dá nome ao livro é absolutamente EXTRAORDINÁRIO! É um clássico, portanto todos sabemos por alto o que por lá se passa. Contudo, o texto vai muito, mas mesmo muito além do pouco que sabemos sobre ele. O narrador não participa na história, mas consegue contá-la de forma muito interessante. Para chegar ao que realmente importa, parte de um passeio pela cidade feito por dois amigos de poucas palavras. Subitamente param junto de uma porta que desperta a sua atenção e conversam sobre aquela casa. Um deles inicia, então, um relato sobre alguma coisa que viu acontecer no passado, envolvendo o habitante daquele lugar. Ora, esta história contada por um dos homens tem relação com algo vivido muito intensamente pelo outro e, assim, sempre na terceira pessoa, esses acontecimentos são-nos narrados. A forma como isso é feito impede que o mistério se perca, pelo contrário: adensa-se. Os vários detalhes que nos são dados fazem-nos ir levantando hipóteses sobre o que está a acontecer, o que mostra que a mestria com que tudo é narrado leva a que nos esqueçamos dos nossos conhecimentos prévios sobre a obra. Damos por nós a imaginar que o que pode ter acontecido é isto ou aquilo. Procuramos explicar por que motivo o testamento do Dr. Jekyll diz o que diz e afinal a resposta é tão óbvia. Mas está tudo escrito de uma forma tão simples que deixamos de ver o óbvio e complicamos tudo. No final, as revelações feitas e as justificações para alguns actos são espantosas.
Este texto é um daqueles que deixam os amantes de boa literatura de barriguinha cheia. O primeiro conto do livro já satisfazia muito os leitores mais exigentes. Ficamos somente com pena que não seja maior. Mas este último, o famoso conto de Robert Louis Stevenson, é, quanto a mim, literariamente perfeito. Tanto pelo que é contado como pelo modo como é contado. O recurso às cartas e aos objectos confiados a amigos para serem verificados em determinada circunstância conferem ainda maior mistério ao texto e, tendo ele a natureza que tem, com um médico adorado por muitos e um homem muito mau capaz de cometer os piores crimes, mistério é o que se quer. Por isso, aconselho-vo-lo. É uma leitura única.
Vou ler, certamente. Pretendo comprar esta edição para poder ler os contos também.
ResponderEliminarSim. O primeiro conto é mesmo muito bom. Houve um ou dois pormenores da construção gramatical de que não gostei, mas suporta-se. E o último conto faz esquecer isso tudo!
EliminarDepois conta-nos, sff, sobre a tua leitura do momento. Sei apenas que foi a (suposta) inspiração para Tom Sawyer.
ResponderEliminarSim, depois farei o balanço, embora me pareça que este "rapaz mau", comparado com o Tom Sawyer, seja um santo.
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