sábado, 4 de fevereiro de 2017

Lendo e (re)lendo

Ontem acabei de ler o Brasil, País do Futuro, do Stefan Zweig (com aspectos interessantes, embora muito repetitivo) e, portanto, precisei de voltar às estantes para escolher a nova leitura. Ora, o que é que é melhor do que um livro? Dois livros, está claro. Portanto, das prateleiras trouxe uma nova leitura e uma releitura. Considerando que não sou pessoa dada a repetir livros, reler chega a ser estranho. Mas existem razões para isso e uma delas é que considero este romance uma obra-prima da literatura. Não, não é o Quixote, embora continue pacatamente a reler a monumental edição da Real Academia Espanhola. Falo-vos de outro livro, desta vez português. Os Maias é, talvez, o único livro que até hoje conseguiu tirar-me o sono. Ou será um dos poucos que o conseguiu. Regressar a ele é sempre agradável, já que além da acção principal que envolve a família Maia, passam-se muitas outras coisas em acções secundárias que nos ensinam muito sobre o país queirosiano, sobre a sua Lisboa. Finanças, tempos livres, jornalismo, literatura, há todo um mundo abordado por Eça de Queirós neste seu romance. Além da sua fina ironia ou mesmo do seu humor exibido à descarada, por exemplo, num Eusebiozinho vestido de anjo e sovado pelo protagonista... 

Mas, como já disse, da prateleira vieram dois livros. O outro será lido nos intervalos de Os Maias. É, também, um clássico, de um autor que considero delicioso. Gostei de tudo o que li dele até hoje, mesmo tendo a ideia pré-concebida de que odiaria um dos seus maiores livros: A Ilha do Tesouro. Afinal acabei por adorá-lo, por lê-lo mais do que uma vez com os meus alunos e por procurar outros escritos seus. Já li alguns contos e hoje pretendo começar o famosíssimo O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde e outros contos. A edição é a da Assírio & Alvim, aquela que tem os cortes do livro vermelhos (e que tem mais dois contos de Robert Louis Stevenson). Portanto imaginem os meus próximos tempos: entre um Carlos da Maia apaixonado e um tipo que tem duas personalidades dentro dele; entre um jovem que estuda para ser médico e um que é ao mesmo tempo um médico e um monstro. Imagino os meus sonhos nos próximos tempos. Vão ser bons de analisar, vão.


4 comentários:

  1. Adorei "Os Maias" e já o reli. Embora não seja muito de releituras. Tão actual. Nunca li "O Estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde", tenho que tratar disso. Essa edição que tens é gira. Tenho um livro da mesma colecção (ainda por ler), de Huysmans, escritor decadentista. " Além", é sobre Gilles de Rais e Satanismo. A capa e as folhas parecem ter sido banhadas em sangue. Uma edição apropriada ao tema.
    Estarás em óptima companhia, aproveita.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, a edição é gira. É pena ter apanhado um erro de português logo nas primeiras páginas. Não era uma gralha: era mesmo um erro (verbo "haver" com sentido de "existir" conjugado no plural...). Fora isso, é uma edição porreira e com um design muito adequado ao tema. Já li o primeiro conto e é muito bom. Não o largas até chegar ao fim. Chama-se "O Furta-Defuntos". Até o nome é sugestivo...

      Eu não costumo reler nada, a menos que a profissão assim me obrigue, coisa que agora não acontece. Mas "Os Maias" é daqueles livros tão bons, mas tão bons que uma vez não chega. Tenho pena que este romance deixe tão má impressão nos alunos do 11.° ano que, sem o lerem, acham logo que é uma seca. Adoro o humor do Eça, as pequenas expressões que ele usa e que conferem um tom por vezes tão caricatural ao texto.

      Olha, no fundo ando muito bem entregue: incesto de um lado e gente que rouba cadáveres do outro. Viva a literatura que permite estas coisas. :)

      Eliminar
    2. Que pena. Em "Butcher's crossing" apanhei enxeu. Sério, está tudo louco. Nem tradutor nem revisor deram pelo atentado à língua. Cada vez mais penso que os revisores estão obsoletos. Espero que reparem o erro caso haja um reedição.
      Gosto muito de Eça, no ano passado li "A tragédia da Rua das Flores" que no fundo era um esboço para a história de Carlos e Maria Eduarda. E "A relíquia"? Com aquele Teodorico hilariante. As passagens de Juliana com Amélia n'"O primo Basílio". A crítica sempre tão bem feita. Felizmente ainda tenho alguns por ler.
      E mais uma livraria fechou. Li hoje no DN. É triste. Eu sou também parte do problema porque compro bastante na Fnac e na Wook. As promoções são bastante convidativas (e por esse motivo comprei os nove volumes de contos de Tchékhov a 40% há alguns anos) mas impossíveis de igualar pelos pequenos livreiros. E assim vão fechando livrarias, lojas icónicas e cinemas.

      Eliminar
    3. Adorei todos esses de que falaste, mas aquele de que gostei mais foi de "O Primo Basílio". A relação entre a empregada e a patroa é qualquer coisa. Li há pouco tempo "A Ilustre Casa de Ramires", que também é muito bom, embora não seja o meu favorito. Lê "O Conde de Abranhos" que é, também, hilariante.

      Pois eu começo a achar que há livros que nem devem ser revistos. Devem ser traduzidos e está bom. Este erro que mencionei é o típico erro de quem não tem grandes conhecimentos sobre a língua. Conhecendo-a, dominando-a, o erro não passava. E entretanto eu, que estudei Português até não poder mais, vou continuando desempregada... Assim vai o mundo.

      O meu sonho era ter uma livraria, mas à velocidade a que fecham, de facto é um sonho bem estúpido. Eu também compro muito na Fnac e na Wook, o que é mau. Mas é como dizes: a questão dos preços acaba por falar mais alto. E assim também nós contribuímos para o fim das livrarias de proximidades até só sobrarem as grandes cadeias comerciais. Mais uma vez, assim vai o mundo. :(

      Eliminar