segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A melhor das pragas!

Depois de escrever a última quixotada é que tive uma ideia tão boa que gritei «Eureka!» enquanto fervia água para o arroz. 

Ora, eu, que estou sempre a imaginar novas pragas bíblicas a acrescentar às originais que se abateram sobre o Egipto quando o faraó não queria libertar o povo do Senhor, ainda não me tinha lembrado da melhor praga, aquela que levaria aqueles tipos a libertarem o povo escolhido, o que nem era lá muito escolhido e mais três dezenas de galinhas, todos os escravos, a desgraçada que faz a cama ao faraó e se esquece de sacudir as migalhas dos lençóis, o próprio rio Nilo, a esfinge, setecentas e oitenta e duas palmeiras aparentemente bem agarradas ao chão, todos os hieróglifos das paredes, as nuvens do céu, os gatinhos sagrados, a promotora da Meo de lá da zona, cinco burras leiteiras e o chefe pasteleiro responsável pelos muffins de mirtilo do faraó! A melhor praga era, indubitavelmente, enviar para lá... a namorada do Roberto!

Imaginem: está o faraó a relaxar num banho de leite de burra de maneiras a ficar com a pele de um bebé, enquando um criado lhe agita as águas com as próprias mãos de forma a parecer que está num jacuzzi. O faraó pensa que tem tudo controlado: não liberta o povo nem que Deus volte a mandar-lhe uma praga de gafanhotos! Assim como assim, foi ao oráculo e ficou a saber que muitos séculos mais tarde haverá chefs do mundo ocidental a servir gafanhotos em pratos gourmets aos seus comensais, por isso não há razão para se aborrecer com uns insectozinhos. Já que pensava nisso, a ver se lembrava o decorador lá do sítio de ir desenhar um perfil seu enojado diante de um prato de gafanhotos, de forma a deixar para a posteridade o que pensa dessas coisas gourmets com bichezas. Mas adiante: está o faraó nesta vida quando, subitamente, parece iniciar-se uma violenta trovoada. O agitador de águas pára; o faraó fica a meio de um gole do seu Bloody Mary, à escuta; o criado responsável por mungir a burra fica de tetinhas na mão e com a boca escancarada; a própria burra fica retesada ao ouvir aquele som troante. No cómodo do lado, a esposa do faraó pousa o seu livro da colecção «Arlequim» e fica à escuta. E eis que todos ouvem:

- Roberto, eu não sou uma das tuas p****! Eu estou a falar contigo, Roberto! Roberto, cala-te, eu estou a falar! Roberto! Roberto! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! (choro convulsivo) Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! (som de coisas a partirem-se) PÁRA, ROBERTO! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! (barulho de paredes a serem esmurradas)

O faraó, ainda meio mergulhado no seu banho de beleza, pergunta ao criado de mão no ar, pingando com leite o tapete tão lindo que fora presente de casamento da sogra:

- O que foi isto, Imopetico?

- Senhor faraó, julgo que é mais uma praga. Parece-me uma namorada ciumenta ao telemóvel.

- Mas aqui há cobertura de rede?

- Senhor faraó, - diz fazendo uma mesura e continuando a pingar o chão com leite de burra - o promotor da Egiptofone esteve cá na semana passada e instalou uma antena na ponta da pirâmide de Gizé. Agora temos sempre quatro traços de rede.

- E já pintaram um hieróglifo comigo a falar ao telemóvel? Quero que todos saibam que foi durante o meu reinado que se melhorou a rede dos telemóveis!

- Senhor faraó, parece-me que ouvi o vosso secretário Emojitep falar sobre isso mesmo. Creio que será feito logo que se terminem os hieróglifos para ilustrar os romances que a sua senhora anda a ler.

Já meio esquecidos do que os distraíra durante o relaxante banho, prosseguem a conversação e o faraó chama o secretário para dar algumas ordens. A burra volta a ser mungida, o leite torna a ser batido na banheira (será assim que um dia se inventará a manteiga, durante a crise do leite que levou o faraó Imunoteto a ter de banhar-se em natas), o tipo dos white noises continua a tentar recriar o som das nuvens para relaxar ainda mais o soberano quando...

- Roberto, Roberto! ROBERTO! OUVE-ME, C*******! ROBERTO! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

A porta da divisão abre-se com estrondo, entrando o responsável máximo pela segurança no palácio. Informa todos os presentes de que estão sob nova praga, que desta vez o Altíssimo atacou com todo o seu poder, enviando uma namorada descontrolada que tem coisas para resolver com um tipo chamado Roberto. Já tinham tentado tirar-lhe o telemóvel das mãos para travar a praga, mas ela tinha respondido com dentadas e pontapés. Naquele preciso momento, um dos soldados estava a ser tratado na enfermaria, onde seria suturado de modo a manter o uso do dedo indicador. Por isso, explicava o tipo da segurança da casa real, era preciso evacuar e não havia tempo para reunir o Conselho de Guerra: temia-se o agudizar da situação, pois o Roberto havia já desligado o telefone na cara da moça umas duas vezes.

- AAAAAAAAAAAH! Roberto, não sou uma das tuas p****! Não me desligas o telefone na cara, c*******! ROBERTO! ROBERTO! AAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

- Bom, afinal foram três, meu senhor. Por favor, temos de evacuar!

No átrio do palácio amontoam-se todos. Criados, membros da família real, a burra, os responsáveis pela segurança, o retratista real, todos se preparam para sair ordeiramente. Até que o faraó, choroso, incapaz de aguentar mais os gritos da namorada revoltada, dá a tão esperada ordem:

- Libertem os outros tipos! Estou farto de pragas! Gafanhotos? Levam-se! O Nilo feito sangue? Seja! O sol desaparecido por três dias? Bom para pôr o sono em ordem. Agora, malucas ao telemóvel é que não! Uma pessoa tem limites! Ei, sacerdote, chega aqui!

Caminhando de perfil, o sacerdote chega junto do soberano.

- Corre à igreja mais próxima e informa o responsável pelas pragas que me rendo. Dou-lhe tudo! Quer o povo, eu dou-lhe o povo. Mas pede-lhe para me deixar ir também e para só voltar a fechar o Mar Vermelho depois de nós passarmos! E diz ao Turbotep que vá cortar aquela antena da Egiptofone! Os canais de televisão ficam, que quando voltarmos quero ver o «Portugal Festeiro» na Feira da Chouriça Engelhada que vai lá o Tonikamon Carreira. Mas que nenhum telemóvel tenha sinal nos meus domínios!

- Sim, senhor faraó. 

- Estão todos? Podemos partir? Têm a minha burra? Que foi, Ptolomickey? 

- Nada, senhor. Apenas a alma possuída que grita ao telefone... Irritou-se tanto que arrancou o nariz à Esfinge. 

- ARRANCOU O NARIZ À ESFINGE??? AI A FILHA DA P***! MUNDO, TUDO A ANDAR À MINHA FRENTE! E NADA DE PERFIS, HOJE É PARA ANDAR DE FRENTE E DEPRESSA!!!

E foi assim que se conseguiu a libertação dos hebreus, até ali vergados sob o peso da escravatura. Mas na longa caminhada até Canaã, não seguiu apenas o povo hebreu. Um hidratado faraó, seguido pela sua esposa (que levava sob o braço três livrinhos «Arlequim» para se entreter na viagem), uma burra leiteira e duas colegas, galinhas e toda uma comitiva desesperada, seguiam também o caminho. O que não sabiam é que à chegada seriam brindados com novas pragas porque o Altíssimo não tinha por lá camas para acomodar toda a gente. Ficou só a burra, as galinhas e os livrinhos da soberana, que fizeram as delícias de muita moçoila casadoura. 

FIM

Nota da autora: Esta narrativa explica com exactidão histórica a razão pela qual a esfinge tem este aspecto.


A imagem saiu daqui.

7 comentários:

  1. Bahaha já pensaste em escrever um livro? Eu comprava na hora!

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    1. Imagina só o disparate que de lá sairia... Ahahah!

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    2. Isto faz falta é livros para rir. Vais à fnac e é só livros de auto ajuda lol

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    3. Deus nos livre! Isso é outra praga quase tão terrível como a namorada do Roberto! Os livros de auto-ajuda fazen-me urticária. Não consigo compreender que haja quem queira viver de acordo com o que ali é dito. São bons apenas para enriquecer quem os escreve. Não é à toa que vendem que é uma coisa parva.

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  2. :DDDD
    Belas gargalhadas, obrigada.

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    1. De nada. É para que vejam o tamanho da praga “Roberto”. Qualquer dia organizo excursões cá a casa e dormidas em noite de Festival Roberto. Ainda vou lucrar com isto. :P

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