Então o nosso caríssimo Primeiro Ministro aconselhou os professores sem emprego a emigrarem? Tão querido... Tão preocupado que ele está com a nossa situação. Até perde horas de sono (é preciso não dormir há vários dias para se parir uma ideia destas) a pensar na melhor forma de ajudar os desgraçados que neste país têm a triste ideia de abraçar o ensino. Mas obrigada, caro Primeiro Ministro, pela preocupação. Vejo que foi sentida. Foi conselho de pai. De pai rígido, veja-se, porque assentar um chuto no cu de quem pagou anos e anos de propinas às faculdades portuguesas é coisa de homem de barba rija. Aconselhar os parvalhões que fizeram sacrifícios que não lembravam a ninguém (como eu fiz e como muitas colegas fizeram), tais como obrigar recém licenciados a fazer novas cadeiras que já não contariam para a média do curso nem para rigorosamente nada, simplesmente para poderem entrar num Mestrado de formação de professores que tinha de ser bidisciplinar (sim, para ser professora de Português fui OBRIGADA a ser professora de Latim, ainda que essa disciplina quase já não exista nas escolas portuguesas). Isto porque ninguém se lembrou da necessidade de fazer essas cadeiras quando ainda estávamos efectivamente a fazer a Licenciatura. Só depois, claro. Agora este senhor, que obviamente não foi o responsável pelas palhaçadas vividas nos Mestrados em Ensino porque nem sequer estava no Governo, assenta-nos um real pontapé na cloaca e manda-nos ir dar aulas para Angola ou para o Brasil, ou para quem nos aceite, já que em Portugal somos uns zeros. Muito bem, gosto muito. Acho querido da parte dele.
Mas já agora deixo uma pergunta ao senhor Primeiro Ministro. Por acaso não quer devolver-nos o dinheiro investido nos estudos superiores neste jardim à beira-mar plantado? É que um valor aproximado de quinhentos euros de propinas nos primeiros dois anos de curso, de oitocentos nos dois últimos e de mil por cada ano de Mestrado, fora os livros (coisa para quinhentos euritos por ano), as fotocópias (aí nos trezentos euros por ano), as cópias da dissertação e o dinheiro pago para a sua entrega, a alimentação e os transportes já dá para a viagem para o Brasil e para umas feriazitas antes de começar alegremente a leccionar Machado de Assis do outro lado do Atlântico.
Ai, moça, vi essa bela notícia logo que acordei, mas nem tive coragem de comentar. Como fazemos, vamos para Angola ou para o Brasil? Para nenhum lado, não é?!! Vamos fazer ouvidos de mercador ao conselho animador do senhor Primeiro Ministro e ver se nos safamos por cá, no ensino ou noutra área.
ResponderEliminarP.A.