Até agora gosto da revisão da estrutura curricular proposta pelo Ministro da Educação, Nuno Crato. Sejamos honestos: para que serviam as disciplinas de Estudo Acompanhado e de Formação Cívica? E que lógica tem a carga horária tão exagerada no 12.º ano? E já agora, qual o benefício de um aluno iniciar o estudo do Francês no 5.º ano e só começar a ter Inglês, a língua com que mais nos entendemos mundialmente, alguns anos mais tarde? E por que razão haviam a História e a Geografia de ser disciplinas perdidas no meio do currículo, com uma carga horária menor do que o necessário? Falo pela experiência que tive no ano passado ao leccionar a epopeia Os Lusíadas, a peça Felizmente Há Luar! e o romance Memorial do Convento: a grande maioria dos alunos tem um profundo desconhecimento da História de Portugal, e não estão melhor no que respeita à História Mundial. Não têm noção de quando se deu este ou aquele acontecimento, não sabem estabelecer balizas temporais para uma realidade como a que foi a do Estado Novo e só têm uma vaga ideia do que durante esses tempos sucedeu. Quando lhes falei sobre a PIDE, sobre a falta de liberdade, sobre a censura às artes e à imprensa, sobre as prisões políticas, ficaram a olhar para mim de boca aberta como se aquilo fosse totalmente novo para eles. Na altura perguntei-lhes se não tinham História e disseram-me que já não tinham desde o 9.º ano porque «não eram da área de Humanidades». Não sei que raio de currículo era aquele, mas fez-me impressão verificar que conhecimentos fundamentais como os que rodeiam a nossa época áurea de expansão ultramarina ou os que se prendem com um tempo cujas consequências ainda hoje sentimos na pele, como foi o do Estado Novo, pura e simplesmente não existem. E pior: não percebem a importância de conhecer o nosso passado porque no seu entender a História é «chata» e em nada interessa. Enganam-se: se olhássemos mais para o que fomos, teríamos uma ideia muito mais clara do que somos e do que ainda viremos a ser.
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