Há uns tempos ouvi uma discussão entre um professor mais velho e um professor mais jovem sobre o «despir da camisola de professor», tema que todos sabemos dar polémica com fartura (recordem-se, por exemplo, da professora de Mirandela que posou para a Playboy). Rapidamente a conversa foi parar às redes sociais e ao quanto um professor é vulnerável nesse mundo virtual.
Isto leva-me a uma das coisas que mais detesto saber que acontece pela enormidade do ridículo em que consiste: um professor ou uma professora do ensino básico e secundário que se torna amigo/a dos alunos na sua página pessoal do Facebook. No que respeita ao ensino universitário, não me manifesto porque a idade é outra e a relação entre os professores e os alunos é, também ela, de outro tipo. Mas com alunos de uma faixa etária que abrange idades que podem ir dos nove ou dez anos até aos dezoito, parece-me manifestamente pouco inteligente da parte do professor fazê-lo. E porquê? Por várias razões.
Qualquer professor sabe que, a partir do momento em que começa a exercer, está a vestir uma «farda» que não voltará a despir até ao fim dos seus dias. Ainda que dê poucos anos de aulas, haverá sempre por aí alguém que foi seu aluno. Mas para quem segue essa profissão ao longo da vida, mais a farda pesa e tem de ser respeitada. Há um papel que é assumido e que temos de seguir. Ora, os nossos alunos conhecem-nos como professores e é essa a única vertente em que nos devem conhecer enquanto somos docentes deles. Assim, parece-me totalmente disparatado levá-los para um mundo tão particular quanto o da minha página pessoal do Facebook. O que de bom poderá trazer à relação professora-alunos o facto de me verem em biquini nas minhas férias? Ou de me verem com os meus amigos num jantar? Ou de me verem com o meu cão? Consigo conceber que os professores criem uma página do Facebook diferente daquela que usam com os seus amigos e familiares. Quase como o email de trabalho que hoje em dia todos temos. Agora, partilhar com os meus alunos a minha vida privada e as minhas fotos particulares é o maior disparate que já vi. É ridículo, infantil e, acima de tudo, perigoso. Uma turma pode ter até trinta pessoas, todas elas muito diferentes umas das outras e uma coisa é tão certa quanto eu gostar de palmiers cobertos: podemos dar aulas àquela gente um ano inteiro e correr tudo muito bem, mas basta um dia e uma palavra para a relação azedar. E aí, minha gente, o nosso Facebook pessoal, se cairmos na asneira profundamente idiota de ter os nossos discentes como amigos, torna-se uma arma que pode perfeitamente ser utilizada por gente que ainda não tem noção das consequências. Em suma: quem o faz vive num mundo cor-de-rosa que facilmente pode mudar de cor.
Adenda da autora: Além do perigo que é, que interesse pode haver em ter os alunos a comentarem a nossa vida social ou a nossa boa forma física (tudo informação apreendida nas redes sociais) no início das aulas ou pelos corredores da escola? Alguém me explica isto????
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