O nosso Primeiro Ministro não se limitou a aconselhar os professores a emigrar. No fundo o que ele disse foi que os professores que não querem mudar de profissão podem sempre ir procurar trabalho onde são precisos: noutros países.
Pois, senhor Primeiro Ministro, eu até podia abrir uma mercearia e vender tangerinas ou então montar uma cafetaria, mas todos sabemos como tais negócios são destruídos neste país, não é? Quando não é a ASAE a cair em cima dos comerciantes, é o I.V.A. na restauração a subir para uns meros 23%, uma percentagem muito maior do o cobrado pelos nossos vizinhos espanhóis, por exemplo. Pergunto, portanto, para que profissão poderia eu mudar. Há uns tempos mandei imensos currículos para vários sítios e não obtive uma única resposta. Presumo que o facto de ter estudos superiores demova muitas empresas de me querer como funcionária, ainda que eu possa e saiba fazer tudo aquilo que uma pessoa com o 12.º ano faz.
Mudar de profissão não é fácil, senhor Primeiro Ministro. Se olhasse para o mundo real e não para uma efabulação catita, sabê-lo-ia. E, a propósito, o seu ministro Miguel Relvas é um pouco ofensivo ao chamar «conservadores» aos professores que não perceberam a mensagem que o senhor nos quis passar. O facto de eu ter estudado tanto cá, de ter investido numa Licenciatura e num Mestrado em Portugal para vir a ser professora de Português no meu país, segundo os Programas de cá e seguindo as metodologias por aqui utilizadas dá-me legitimidade para me sentir ofendida ao ver que as mais altas instâncias não me dão qualquer valor e até me querem ver pelas costas. Isso não é ser conservadora, como o referido ministro disse. Mais: ofende-me saber que se acolhe de braços abertos e com um subsidiozito tanta gente que nem sequer quer trabalhar, mas que se empurram para longe os cérebros e as pessoas que querem ajudar o país com o seu trabalho e esforço. Mas isto, senhor Primeiro Ministro, só mostra bem o lixo em que Portugal está tornado: em nome de uma economia que nunca sairá da cepa torta, mandamos para longe os cérebros e acolhemos os que nada querem fazer. Aliás, nem sei por que me espanto desta forma. Nunca os professores foram apreciados neste país. O que agora foi dito só mostra a eterna e profunda vontade de os ver pelas costas.
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