No âmbito do ensino, corrigir testes e trabalhos é mesmo a coisa mais chata de se fazer. Dar aulas é divertidíssimo e toda a gente devia experimentar uma vez na vida, mas corrigir trabalhos escritos é o terror. Normalmente tenho alguns hábitos em torno desta actividade chata como mais nenhuma. Uns são mais estranhos do que outros. Ora confirmem lá:
1. Só quando (como aconteceu hoje), sou obrigada a dar as notas de um dia para o outro, vejo os testes ou os trabalhos no mesmo dia em que foram feitos. De resto, é raríssimo começar a corrigir no mesmo dia. Não é superstição: é mesmo necessidade de me distanciar do momento da realização dos testes. Gosto assim, nada a fazer;
2. Não corrijo os testes na ordem pela qual os retiro do envelope: baralho-os primeiro;
3. Depois de os baralhar, coloco o de um bom aluno em primeiro lugar e começo por esse. Porquê? Por três razões: para não me enervar logo com o primeiro teste, para me ajudar a entrar naquela correcção e, de certa forma (embora, obviamente, tenha critérios de correcção), para estabelecer a fasquia. Claro que se o bom aluno se espalhar, fico logo possessa e azeda;
4. Raramente corrijo um teste inteiro antes de passar ao seguinte. Normalmente, a menos que esteja com muito pouco tempo, corrijo a mesma pergunta em todos os testes antes de passar à pergunta seguinte;
5. Só classifico os testes depois de todos estarem corrigidos: pode haver a necessidade de fazer alguns acertos no final das correcções;
6. Espalho comentários pelos testes e, alguns, acabam com verdadeiros testamentos escritos a vermelho;
7. Contrariamente ao que ingenuamente achava no estágio, nunca corrijo a outra cor que não o vermelho;
8. Uso uma esferográfica para corrigir testes e trabalhos de casa e uma caneta de tinta permanente para corrigir exames (sabe Deus porquê!);
9. Faço tantos riscos para «trancar» cada teste (evitar que o teste seja devolvido aos alunos com espaços em branco, de modo a precaver-me de falcatruas) que uma caneta vermelha raramente dura um período inteiro;
10. Nas turmas do ensino básico, coloco a classificação numérica e, abaixo dessa, a classificação por extenso (também para evitar falcatruas).
E é isto. Os meus dez mandamentos da correcção. Há mais uns quantos, claro. Os professores que lerem isto verão que os seus métodos poderão ser abissalmente diferentes. Isto de corrigir trabalhos é como tudo na vida: cada qual faz como quer, desde que não perca de vista a justiça que deve presidir a qualquer correcção.