quarta-feira, 14 de abril de 2021

A Menina Sugere Isto XL

Wook.pt - Como Funciona o Fascismo


Não é preciso vivermos num regime fascista para convivermos com políticas fascistas. Este livro, Como Funciona o Fascismo, de Jason Stanley, ajuda-nos a perceber isso mesmo. É fácil pensar que, de facto, o tema não interessa assim tanto já que vivemos numa democracia e o fascismo ficou algures no passado. Nada mais errado. A leitura deste livro permite perceber com clareza que estamos rodeados de políticas fascistas. Olhamos para outros países europeus e elas pululam, olhamos para o que dizem algumas criaturas do nosso meio político e, voilà, lá estão elas. Recordamos o desempenho de Trump enquanto presidente dos Estados Unidos e ei-las. O regime pode ser democrático, mas o fascismo anda por aí.


O que o autor, professor em Yale, faz neste livro é dedicar um capítulo a cada um dos pilares do fascismo como a criação de um passado mítico, a propaganda, o anti-intelectualismo, a irrealidade, a vitimização, entre outros. Desenvolvendo cada um dos temas, o leitor vai percebendo a forma velada escolhida por quem defende estas políticas para com elas ir ocupando um lugar cada vez maior, cada vez mais destacado na sociedade. Por exemplo, torna-se claro o modo como através do discurso que louva um passado mítico (que na maior parte das vezes nem sequer aconteceu), se consegue chegar a uma marginalização das minorias. Como se no passado um determinado povo ou nação tivesse sido brilhante porque era genuíno, e agora estivesse em decadência por ter sido maculado com a chegada daqueles que, alegadamente, trouxeram todos os males do mundo na bagagem. Se para quem me está a ler isto parece ridículo, lembrem-se do «Make America Great Again», que remetia para uma época que nunca percebemos bem qual foi (o tal passado mítico), e a questão do muro na fronteira com o México e das políticas de imigração.


O anti-intelectualismo é outra das características das políticas fascistas. Calar as universidades, os cientistas e os meios de comunicação social é urgente para quem quer governar sozinho, sem ouvir ninguém. Para isso recorre-se muitas vezes a uma espécie de psicologia invertida. Algo como: não queremos ouvir as universidades porque elas são de esquerda e só veiculam aquilo que os outros querem ouvir. Isso limita a nossa liberdade de expressão porque as nossas ideias não são divulgadas e portanto somos censurados. Assim sendo, fechamos a porta à ciência. E já agora aos media que não têm um tom laudatório para connosco porque isso certamente significa que são pelos outros. Isto não vos lembra nada? Bastante atual, não?


E com frases curtas, com ideias básicas para serem entendidas pelo mais jumento dos destinatários (é mais ou menos o que Hitler diz no Mein Kampf), lá se vão minando as cabeças alheias, enchendo-as de ideias ridículas contra minorias, contra direitos que nunca se deviam pôr em causa, contra avanços científicos importantes. E assim se controlam pessoas. Com certeza todos vocês conhecem alguém que, nas redes sociais, papagueia ideias de base fascista, achando-se inclusivamente mais inteligente do que os outros por ver o que eles não veem (geralmente usam palavras como «desgoverno» e «jornalixo», duas idiotices que me causam urticária). É o pão nosso de cada dia. E em plena pandemia isso multiplicou-se ad nauseam.


Por isso, meus caros, ler sobre o fascismo não é regressar às aulas de História do secundário. É perceber os meios que alguns usam para se imiscuir na nossa democracia, por um lado, e nos regimes políticos de muitos outros países por outro. Negar o Holocausto, negar factos históricos que embaraçam a história de um país, lançar a dúvida sobre uma minoria com base em casos isolados ou mesmo em... nada... Tudo isto acontece e o saber ainda é uma das melhores formas de enfrentar estes perigos. Não é à toa que quem defende tais políticas não deseja gente informada e instruída. Pelo contrário... Assim, só posso sugerir-vos este livro. Não é uma leitura pesada, é tudo muito acessível e com exemplos de políticas que vigoram ou vigoraram um pouco por todo o mundo ao longo do tempo. É bastante interessante e, assim sendo,  a menina sugere mesmo mesmo isto. Boas leituras!

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