sexta-feira, 19 de julho de 2019

Retrocesso

Ouvir uma multidão gritar, num comício de Trump, qualquer coisa como «Mandem-na de volta!», referindo-se a um membro da Câmara dos Representantes natural da Somália, recorda outros comícios, num século que passou, mesmo antes de um acontecimento que jurámos não repetir. Aliás, todos os que nascemos depois da Segunda Guerra Mundial ouvimos, na escola, aquela máxima de que a História não deve ser esquecida para não ser repetida. Talvez as palavras tenham sido ditas tantas vezes que perderam o sentido, como quando repetimos o nosso nome e chegamos a um ponto em que já nem nos parece o nosso nome. 

Eis-nos chegados a 2019, mas voltados para a década de 30 do século passado. Deixamos morrer gente em botes no Mediterrâneo; assistimos à luta entre países para ver quem é que NÃO ajuda aqueles que fogem à guerra e à miséria; impávidos e serenos jantamos diante de uma televisão que mostra um suposto líder político escudado por uma multidão acéfala que repete palavras xenófobas com ecos de outros tempos; bocejamos perante actos óbvios de falta de empatia entre seres humanos; observamos o crescimento das nossas unhas quando sabemos que os mais básicos direitos humanos estão a ser pisados e repisados...

 Quando tudo devia soar a perigo, quando todos os nossos alarmes deviam estar a soar, não estão. E assim retrocedemos décadas e vamos voltando placidamente ao que jurámos não repetir.

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