quarta-feira, 3 de julho de 2019

A lei, os animais e os miseráveis

Ontem levámos a Madame Pochita ao veterinário para fazer uma análise. Na sala de espera, a dona de uma gata falava sobre uma situação a que assistiu num bairro de Lisboa há uns anos. No Verão, de repente, começaram a aparecer muitos gatos e cães na mesma zona. Mesmo muitos. O suficiente para despertar a atenção de alguém que visitava o lugar com uma certa regularidade, como ela. Perguntou a uma conhecida por que motivo se viam ali tantos animais. Já devem estar a adivinhar a resposta, mas mesmo assim não deixa de chocar: aqueles bichos todos eram de idiotas que tinham ido de férias e que os tinham deixado na rua. Se ao regressarem eles ainda lá estivessem, muito bem. Se não, arranjavam outros (e no ano seguinte a história repetir-se-ia).

Um dos cães «perdidos» adoptou um trabalhador da construção civil e seguiu-o para todo o lado. O homem teve o cão consigo enquanto continuava a obra que vinha a fazer num apartamento da zona, mas ao final do dia não o podia levar para casa porque já tinha outros animais. Levou-o a uma clínica veterinária e verificou-se que o cão tinha chip. Contactou-se o dono, que vivia a vários quilómetros de distância, e ele foi buscar o animal, dizendo que tinha fugido, que andava à procura dele... Enfim, uma história que não se percebeu se seria verdade ou não. O que aconteceu é que ele levou o cão para casa e, eventualmente, pode ter repetido a mesma brincadeira uns tempos depois.

Actualmente existem leis para a protecção dos animais domésticos. E são leis conhecidas: os media referem-nas frequentemente. Mas ainda há, infelizmente, muita gente com uma mentalidade abjecta no que respeita aos animais e principalmente aos de companhia. Adoptam porque são pequeninos, porque um cachorrinho ou um gatinho são bolinhas de pêlo irresistíveis, porque os filhos andam a pedir um animal... Enfim, levam animais para casa sem pensarem que é um compromisso sério e para a vida. Provavelmente são criaturas sem consciência, já que eu nunca conseguiria estar de férias descansada sem saber onde e como estariam os meus peludos. É inacreditável estarmos em 2019 a falar do abandono de animais como falávamos na década de 90 e tão pouco ter mudado. Sim, há leis, é verdade. Mas preocupa-me ainda mais a mentalidade que se manteve e o pouco que as leis conseguem fazer pelos animais.

Eles não falam, não pedem para ser adoptados. A escolha é sempre nossa. Se são fonte de despesa? São. Se destroem coisas? Destroem. Se dão dores de cabeça? Dão. Mas amam-nos de uma maneira única e dão-nos mais alegrias dos que uns móveis imaculados. Levá-los para casa tem de ser uma decisão pensada e se depois quiserem ir de férias, assumam a decisão e deixem-nos protegidos e bem cuidados nos lugares apropriados. Não o fazer é de quem não presta, é de seres miseráveis. E esses deviam ser bem punidos pela lei, a bem dos animais.

animal cruelty,pets abandoned,SPCA

Nota: A imagem saiu daqui e é de Siddhant Jumde.

2 comentários:

  1. em tempos soube de casos em que pediam aos veterinários para abaterem os animais (perfeitamente saudáveis) para irem de férias, ou porque o animal tinha crescido e deixara de ter piada…
    enquanto os animais forem vistos como um acessório, uma prenda de natal, ou de bom comportamento, não creio que as coisas mudem :/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem... Isso é um escândalo! Como é que se consegue dormir depois de um crime desses? Há seres humanos que são verdadeiros monstros. :(

      Eliminar