quarta-feira, 13 de setembro de 2017

«Nárnia», versão subúrbios

C. S. Lewis criou, em meados do século passado, o universo de Nárnia. Em sete livros de fantasia, nasceu um mundo completamente novo para o qual se poderia entrar através de um roupeiro. Aliás, dos sete volumes, o que se tornou mais conhecido do público foi mesmo o que se intitulou O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. O Leão é, no fundo, um representante da sabedoria que acaba por ajudar as crianças que visitam Nárnia a livrar-se da bruxa que espalha o mal por todo o lado. Para chegarem a esse maravilhoso mundo fantástico, as crianças (são-no quase sempre) descobriram uma passagem no fundo de um guarda-roupa.

Ora bem, tenho uma versão das Crónicas de Nárnia cá em casa. Vejamos como.

O Senhor Gato está, desde que fomos de férias, mais dengoso e mimado. Parece que tem medo de que fujamos e, portanto, tem dormido no quarto porque a outra hipótese é... ouvi-lo chorar como nunca ouvimos antes. É estranho porque a minha mãe veio tratar deles na nossa ausência e eles estavam sempre animados e a brincar. Mas parece que a saudade bateu fortemente e o bicho não se afasta de mim mais de metro e meio. Assim, tem dormido no quarto e arranjou um esconderijo debaixo da cama. De vez em quando ouço-o ressonar e suspirar. Porém, o Senhor Gato é dado a dormir sestas e não noites inteiras. Isso faz com que acorde a meio da noite e queira que todos acordem para o mimar. Ultimamente a festa tem acontecido às quatro da manhã e com grande pompa. Passei, por isso, a apelidá-lo de «Rambo das Quatro da Manhã». É que ele acorda em modo «Eu vou partir esta m**** toda se não se levantarem para me adorar!». E eu levanto-me antes que ele cumpra.

Mas o felpudinho diabólico tem outro sistema para arrancar-me da cama ainda antes das cinco: tenta insistentemente abrir o roupeiro. Vejamos: ele sabe abri-lo e fá-lo ao longo do dia, mas de madrugada o barulho ganha outros decibéis. Portanto, a cena que se segue envolve a bruxa (eu) a levantar-se da cama para impedir o leão (que tem juba e tudo) de entrar no guarda-roupa (pirando-se para Nárnia ou simplesmente para o reino do toalhão de banho). A arte imita a vida e vice-versa. Este gato deve ter andado a ler C. S. Lewis durante a nossa ausência e agora acha que no fundo do roupeiro há um portal que o levará a um reino de atuns ou de tigelinhas de sopa. 

Resultado: lá vai a bruxa cheia de sono dar umas festas e comida (de que não precisava, mas pronto) ao pequeno leão chato que não sabe que a Nárnia-dos-Subúrbios só abre às nove.

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