segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um novo nível de estupidez

Esta quixotada podia transformar-se em três ou quatro diferentes, nas quais destilaria sobre cada um dos elementos que aqui vou enfiar no mesmo saco: o merecidíssimo saco da estupidez. É um presidente americano que deseja tanto criar uma guerra que até está a ver se a inicia em três frentes distintas (depois estou para ver como se desenrasca. Faz-me lembrar a Espanha dos Reis Católicos, com tantas frentes de guerra em aberto que depois nem sabiam como manter-se, como manter as guerras, e como manter o seu povo sem uma revolta); são claques de futebol que demonstram que o desporto não é o que os move, mas sim a vontade de ferir a claque rival numa falta de respeito e de humanidade que transtorna até o mais pacífico dos seres; são os idiotas dos pais que se recusam a vacinar os filhos porque meteram na cabeça que as vacinas são prejudiciais e blá blá blá e depois põem os filhos deles e os dos outros em risco; é o doido americano que mata um homem e publica o vídeo no Facebook (entretanto retirado pela empresa, mas visualizado por muitos antes disso) e que aproveita para dizer que afinal já matou mais treze pessoas e que o fez por sentir-se frustrado; é um responsável pela Casa Branca que se esquece de uma das mais conhecidas técnicas de homicídio em massa durante o holocausto e que tenta fazer o Hitler parecer um santo ao lado da outra besta da Síria; são pais que acham que o facto de um hotel não ter cumprido com os serviços contratados desculpabiliza os actos de vandalismo supostamente realizados pelos filhos e o seu grupo... Parece uma competição de estupidez!

Juro-vos: ligar a televisão e ver notícias, ler jornais, percorrer o mural do Facebook, enfim, viver num mundo onde a informação quase arromba a porta para nos entrar em casa está a tornar-se doloroso. A vontade que tenho é de desligar tudo e viver só a ler ficção porque é, certamente, menos assustadora do que a realidade. Eu, desde que faço uso dos meus dois neurónios, sempre disse que vivíamos na pior das épocas, na mais desinteressante (sim, para mim o ritmo da vida de hoje e todas as possibilidades que temos acabam por desgastar-nos e tornar-nos apáticos para coisas que exigiriam muito mais do que apatia), na mais perigosa de todas. Nem imaginava que as coisas ainda piorariam ao ponto de estarmos no século XXI a cair nos mesmos erros (mas com dimensões provavelmente maiores) em que já nos espalhámos no passado. E tudo porque somos terrivelmente, vergonhosamente, monstruosamente estúpidos. Estúpidos e esquecidos. Estúpidos, mas com a mania de que sabemos (os pais que se recusam a vacinar os filhos fazem-no porque supostamente sabem que as vacinas lhes farão mal... e agora assistimos ao regresso da filha da mãe de uma doença que ainda há um ou dois anos se considerava erradicada, até se considerou retirar a vacina do plano nacional de vacinação!). Estúpidos, estúpidos, estúpidos! É impossível não pensar isso quando vemos e ouvimos aquilo que tem sido notícia nos últimos tempos. Como é que aquele tipo nos Estados Unidos, desejoso de ter o seu nome nos anais da História Militar norte-americana, desata a bombardear à esquerda e à direita, a provocar até ao limite um país que ele sabe bem que tem poder (e loucura suficiente) para carregar num botãozinho e varrer uma vasta região da face da terra??? Como é que claques rivais não percebem que há coisas que não se dizem nem ao rival? Como é que gozam com mortes, com o sofrimento dos outros? Eu, benfiquista, tive vergonha de ouvir a porcaria de cântico sobre a morte de um adepto sportinguista com um very light em 1996. E não me venham dizer que eles também gozaram com a morte de um benfiquista num acidente há muitos anos. Ninguém tem desculpa! Há limites no que se diz e torcer por uma equipa não é isto. É absolutamente nojento e vergonhoso. É baixo, é reles, é cruel, é desumano. 

Mas desumanidade é mesmo o que mais abunda. Infelizmente, até aquilo que nos torna diferentes dos animais - a razão - vai desaparecendo ao ponto de lamentarmos não sermos, pelo menos, inocentes como eles, que não ameaçam com forças nucleares, que não decidem contribuir para a propagação de doenças para as quais a ciência têm há muito solução, que não partem hotéis porque o bar fechou mais cedo, que não se esquecem das câmaras de gás nazis, que não se filmam a matar alguém para depois porem o vídeo no Facebook... Desumanos e estúpidos: até aqui chegámos.

1 comentário:

  1. Acrescentaria apenas: os maluquinhos que resolvem dar mais poder ao ditador Erdogan.

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