quarta-feira, 19 de abril de 2017

Prendas de casamento

Estive num autocarro onde duas senhoras com idades a rondar os sessenta anos conversavam sobre como a vida estava difícil. Uma delas, pelo que percebi, tinha inclusivamente o marido desempregado e queixava-se de que este mês estava a ser muito difícil porque apareceram despesas extraordinárias que a obrigaram a mexer nas poupanças que fizeram quando o marido ainda trabalhava. 

Ora, ambas as senhoras afirmaram que, ainda por cima, teriam dois casamentos este mês e que, embora não fossem gastar em roupa porque tinham de outros casamentos, precisariam de dar a prenda (dinheiro) aos noivos. A senhora que parecia passar mais dificuldades começou a dizer que não sabia quanto havia de dar, mas que menos de setenta ou oitenta euros por pessoa não podia ser, já que os noivos deveriam pagar em torno disso por cada convidado e se dessem menos, imagine-se o despautério, acabariam os noivos por estarem a pagar para os convidados irem ao casamento! Isto, para a senhora, não podia ser de modo algum e, portanto, chegou à conclusão de que menos de duzentos e cinquenta euros não poderia dar (por ela, pelo marido e pela filha, já emancipada e a viver com o namorado...). Terminou esta conversa dizendo que duzentos e cinquenta euros é muito dinheiro e que nesta altura da vida lhe fazem muita falta. 

O que eu vou dizer pode ir contra o que muitos pensam sobre presentes de casamento, mas é a minha opinião desde sempre e, por isso, a que tenho  aplicado ao longo do tempo (independentemente do que pensem de mim). Quando me convidam para um casamento, deduzo que seja por quererem ver-me lá. Muitas vezes vamos a festas a que nem apetece muito ir, porém vamos porque gostamos das pessoas que nos convidam. Ora, todos temos certamente outras coisas em que preferiríamos gastar o dinheiro: belas almoçaradas, viagens, roupas de que gostamos... Ou podemos, simplesmente, querer poupar o nosso dinheiro. 

Se um casal nos convida para um casamento e tem por intuito que cada um pague o seu lugar, isso pode levar a que acabemos a pagar umas centenas de euros, pois nós só pagamos, não vamos com os noivos aos restaurantes e quintas para escolher o que é mais barato. Portanto, é o sistema "eu-gosto-de-ti-e-quero-que-vás-ao-meu-casamento-mas-paga-o-que-o-restaurante-pede-e-não-bufes". Não concordo com isto e, portanto, não dou mais do que aquilo que quero e posso dar no momento, sendo que nunca chega sequer perto da centena de euros. Às vezes nem a metade. 

A meu ver e como disse, se me convidam é porque me querem ver lá e não é à espera de que lhes pague a festa e muito menos os devaneios que possam levá-los a optar por almoços de cem euros por pessoa. Porque se assim for, então prefiro pegar no dinheiro, no grupo das pessoas que me são mais próximas, e ir almoçar ou jantar onde mais quisermos. Não concordo que os convidados tenham implicitamente de pagar o que consomem. São convidados e os valores não são lá muito razoáveis. Principalmente quando se trata de uma família de três ou quatro pessoas. Os ordenados não são assim tão altos para que tenhamos vontade de entregar metade (ou mais) do salário de um mês aos noivos que nos convidaram para o seu casamento. Por isso, não dou mesmo aquilo que outros costumam oferecer, fazendo tantas vezes sacrifícios inaceitáveis. Prefiro nem ir do que fazer isso. Há muitos projectos que fazemos para o nosso dinheiro e por vezes até os vamos adiando, adiando porque não queremos gastá-lo. Ora, parece-me
injusto que não façamos aquilo que gostaríamos de fazer para depois pagar o nosso lugar quando fomos convidados para estar lá. 

Podem até dizer-me "Ah e tal, mas nas festas de aniversário acontece o mesmo."  Pois, mas geralmente um jantar de aniversário não chega nem ultrapassa os oitenta euros por pessoa, como a maior parte dos casamentos. Se der na cabeça dos noivos de fazerem a festa num local que peça duzentos euros por pessoa (baseando-se na ideia de que os convidados pagam) tenho de pagar e calar? Não. Prefiro pegar nos duzentos euros e fazer outra coisa com eles, então. Algo comigo ou com os que me são mais próximos. 

Bem sei que a minha opinião vai contra o que é costume, mas não me importa. O dinheiro custa a ganhar e pagar as festas de outros não me parece forma de gastá-lo. Dar alguma coisa, tudo bem. Pagar integralmente o que consumo numa festa para a qual fui convidada e sobre a qual não tive voto na matéria é coisa com a qual não concordo. E muita gente também não aprecia por aí além este sistema, mas não vai contra ele porque parece mal dar menos do que aquilo que os noivos vão pagar. Não me levem a mal, mas se não há dinheiro para casar, não casem. Não acho bem é que o façam a contar que os convidados paguem a boda. Então as pessoas andam a evitar tantas despesas para depois acabarem a entregar centenas de euros para pagar um almoço em que nem a ementa puderam escolher? Parece-me que essa forma de pensar implica contar com o ovo naquela parte da galinha. Tantas vezes que já me perguntaram quando casaria e me disseram que o que os convidados dão paga o casamento e ainda sobra dinheiro! Como não concordo com isso, não caso, a menos que tenha dinheiro para pagar tudo e que os convidados não se sintam obrigados a pagar o que consomem. 

Portanto, não há casamento no horizonte. 

5 comentários:

  1. Concordo em absoluto!
    E no dia em que me case novamente, até vou meter nos convites que não queremos prendas, porque o que nos fará gosto é ter lá as pessoas e não queremos que se sintam proibidas de ir devido às prendas.

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  2. Concordo plenamente! Acho ridículo. Já ouvi essa teoria de pagar pelo menos o lugar dezenas de vezes, mas a minha postura é sempre a mesma. Se estão a convidar-me por causa da prenda, vai sair o tiro pela culatra. Aliás, eu nunca paguei sequer parte da minha refeição. Recuso-me a dar dinheiro, ofereço sempre qualquer coisa, se sei que estão a precisar de algo para casa é uma boa opção, senão já dei viagens, noites de hotel, alguma coisa que possa ser desfrutado a dois. Embirro solenemente com convites "cada um paga o seu", mesmo em coisas tipo aniversários. Convite é convite, essas modernices matam-me. Se não tenho dinheiro para convidar os meus amigos para jantar fora, não convido, faço um jantar em casa ou convido só para um café. Quando convido alguém é porque faço gosto na presença, e espero o mesmo de quando sou convidada. :)

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    1. Boa perspectiva.
      Ou então organiza-se um convívio "cada um paga o seu". Mas nada disso de ser "convidada a pagar". Almoços e jantares de grupos, por exemplo. Quando são organizados cada qual paga o seu é uma boa perspectiva. Porque ninguém tem de arcar com a refeição de todos - a menos que convide para isso. O que acontece às vezes é que a conta é dividida no final. A menos que se esteja num restaurante em que se come o que se quiser por X, é injusto dividir contas. Há sempre aqueles que querem beber aquele vinho mais caro e dão cabo de uma ou duas garrafas sozinhos. Claro que, para esses, a refeição fica barata. E para os outros sai cara.

      Não gosto de abusos, descaramento, falta de vergonha na cara, oportunismo e por aí fora.

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  3. Olá.

    Não te preocupes. A senhora fala nesses valores mas depois mete duas notas de 20 euros num envelope selado e não identificado Kkkk. Já ouvi histórias de convidados que dão envelopes vazios.

    Mas isso são outros 500. Existe esta tradição de dar dinheiro. Os noivos mesmo que digam que nao, contam com isso. Mas eu sou da opinião que CONVIDADO significa CONVIDADO. Não INTIMADO. Não se tem de pagar a refeição - a menos que isso esteja escrito no convite. "Olha, quero que vás ao meu casamento mas escolhemos casar e depois a recepção é cada um por si e o valor é Y". Aí SIM, a pessoa reflete e diz sim ou não. Como se fosse um almoço de convívio qualquer - por ocasião de um casamento, portanto. Eu penso que quem dá a festa deve pagá-la. E se querem casar e querem esse tipo de festa, tratem de juntar dinheiro para honradamente e orgulhosamente puderem facultar aos seus convidados essa experiência de partilha de felicidade. Nenhum convidado deve ter de pagar a conta...

    E presentes... desde quando substituiu-se o presente material pelo presente em espécie? Antes ofereciam-se conjuntos de mesa, máquinas de café, etc, etc... Agora é dinheiro? Por favor! Dinheiro nunca foi nem será presente. Dinheiro é moeda de troca, usada para se comprar coisas. Neste caso, compra-se a amizade?

    Bom, devaneios..

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    1. Exactamente. Eu também penso assim: convidado é uma coisa diferente de “convidado-que-o-é-à-espera-de-que-pelo-menos-pague-o-que-consome-que-isto-não-é-para-vir-enfardar-à-borla”. A menos que saibamos com antecedência ao que vamos (como acontece em muitos jantares de aniversário). Mas nos casamentos a brincadeira, a fazer desta maneira, sai muito cara. Nunca pago o que consumo e tal como já comentaram acima, já optei por oferecer vouchers de experiências.

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