terça-feira, 25 de abril de 2017

Sugestões (horríveis) para o Dia da Mãe

Fico doente quando vejo as sugestões de presentes para o Dia da Mãe, principalmente no que se refere a livrarias. Fico enjoada, muito, muito enjoada. 

Já o conceito de «Literatura no Feminino», usado por algumas livrarias, deixa-me a pontos de arrancar cabelos! O que raio são livros para mulheres? E por que motivo livros com histórias de amor delico-doces (Sparks, Modignani, Steel e quejandos) são o que ocorre aconselhar às mães? Será que as têm por tão apoucadas que a leitura que se lhes associa é essa? Já para não falar quando no fundo da lista aparecem livros de culinária e semelhantes lavores...

Não sei que raio de ideia se faz das «mães» portuguesas, mas se calhar carimbá-las com a marca de dona de casa desesperada que lê sobre amores porque é uma romântica incorrigível é para lá de estúpida. A minha mãe, uma das mais vorazes leitoras que conheço, lê policiais (e consegue perceber quase desde o início quem é o assassino), lê clássicos (ingleses, russos, alemães, franceses... não é esquisita), lê romances históricos, lê biografias, lê livros de história. Mas a minha mãe, tal como eu, não lê Sparks, não lê Steel, nem Modignani e achou o bestseller A Rapariga no Comboio uma porcaria (eu li os primeiros três capítulos e concordei com ela: fraquinho, fraquinho). Por isso, as sugestões medíocres que tendem a fazer-se para oferecermos às nossas mães envergonham-me. Não porque a minha mãe seja um espécime estranho que deve ser estudado, pois haverá por aí muitas mulheres com um cérebro composto por dois hemisférios inteiros que lêem mais do que os romances cor-de-rosa de história formatada para ser sempre igual. Todavia, invariavelmente, ano após ano lá vêem as brilhantes sugestões para o Dia da Mãe. Para sugerir-se o que se sugere, mais vaia estar-se calado. 

Eu já nem aprecio muito isto do Dia do Pai, Dia da Mãe, Dia dos Avós, mas sobre isso falarei noutra altura. Agora, que estes dias sirvam para recordar-nos que ainda existem maneiras muito estereotipadas para olhar mulheres e homens parece-me bastante idiota. Acho que a esta altura, já estas distinções ridículas, estas maneiras de carimbar eternamente as mulheres (e os homens porque quando chega o Dia do Pai a coisa não é muito melhor) não deveriam existir, mas pelos vistos «mudam-se os tempos», contudo não se mudam as vontades.

2 comentários:

  1. Sim, as sugestões são sempre de livrinhos fofuchos e imensamente românticos. 'Tadinhas, as mulheres também podem sonhar. Depois de limparem a casa, de fazer refeições e esfregar panelas, bem entendido.
    Curiosamente, ensaios nunca integram essas listas de sugestões rosinhas e repletas de coraçõezinhos. Tal como também nunca lá vi "O Segundo Sexo". Ui, não lhes demos ideias! Um ensaio sobre a condição da mulher e com argumentos sobre Biologia, Filosofia, Antropologia e etc?
    O mundo pula mas não avança muito.
    São depois essas mães (caso engulam o que lhes estipulam) que fazem o mesmo às filhas. Vi há semanas uma mãe negar um livro à filha, porque era impróprio para uma menina. A criança de 5 anos mais ou menos, queria um livro de piratas e a mãe dizia que só lhe comprava se fosse de princesas.
    Um círculo vicioso.

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    1. Então a menina não pode achar piada a piratas? Meu Deus, esta gente está mesmo louca!

      Ensaios nessas sugestões? É mais fácil cruzares-te na rua com um unicórnio. Tais listas são um insulto às mulheres. Fazem uma ideia completamente errada delas, como se fôssemos as heroínas da Jane Austen à procura de amor e casamento. E quando começam a sugerir livros de culinária então... É ridículo. Como dizes: o mundo pula, mas não avança muito.

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