domingo, 7 de fevereiro de 2016

A angústia da escolha

Ontem acabei de ler Os Filhos do Zip Zip, de Helena Matos, e, portanto, chegou a hora de escolher um novo livro que me ocupe as vistas nos próximos dias. Ora, essa tarefa, dada a infinidade de hipóteses deixa-me no seguinte estado (sendo que a coisa nem sempre acaba assim tão bem):


Por isso, depois de namorar e ler as primeiras páginas da recém adquirida Uma História da Curiosidade, de Alberto Manguel, lá fui eu para as estantes ver o que traria comigo para a cama. Note-se que o moço desejou-me "boa noite" depois de saber que ia escolher um novo livro. Ele sabe bem a dificuldade que isso representa.

Incapaz de tomar decisões, trouxe comigo para ler antes de dormir O Papiro de César, o último álbum de Astérix. E, de facto, ainda que os responsáveis pelo texto e pelos desenhos não sejam já os originais, há quem tenha boa mão para continuar as aventuras daqueles fabulosos gauleses. O mesmo não tinha acontecido com o anterior Astérix e os Pictos que era muito, mas muito fraquinho para a qualidade a que fomos habituados. 

Todavia, um álbum de Astérix lê-se em menos de uma hora, o que quer dizer que a angústia continua. É preciso escolher um livro que responda aos seguintes requisitos: que seja bom, que seja capaz de envolver o leitor na sua acção, que não seja muito grande e, consequentemente, muito pesado, pois vai andar na minha mala até que termine a sua leitura e eu já carrego muito papel diariamente. Esperam-me momentos de grande indecisão diante das estantes.

Quanto a Os Filhos do Zip Zip, é um livro engraçado para conhecer alguns aspectos do quotidiano da época marcelista (não a de agora, a do século XX...), mas paramos por aí. Tendo em conta que a autora foi consultora para a componente histórica da série Conta-me Como Foi, esperava mais pormenores do quotidiano, do dia-a-dia das pessoas, das marcas usadas, das publicidades feitas para as coisas de uso comum, das curiosidades sobre a vida num tempo que parece já tão longe do nosso, dos hábitos, dos vícios... No início é disso que fala o livro, mas o final já é mais um livro de História que se apressa em contar as batalhas políticas de Marcello Caetano e a cavalgada até ao 25 de Abril. Para quem viu a série portuguesa (eu devorei-a, mas prefiro o original espanhol que, aliás, não se deixou ficar pelo fim da ditadura e mostrou a continuação das suas personagens depois de Franco, indo já na representação da década de oitenta), e gostou de ver como viviam as pessoas naqueles tempos, apetece mais. O que se comia? O que se vestia? Como se entretinham os mais novos? O que era a escola e como funcionava? Quais eram os preços das coisas? Enfim, miudezas (ou não tanto assim) que a curiosidade queria ver esclarecidas. Mas, tirando aquele final em que tudo parece acelerar para o dia em que os militares conseguem a ansiada liberdade, é um livro que entretém, que ensina alguma coisa. O que não ensina, certamente, é a escrever porque tem cada vírgula tão mal colocada e cada expressão mais esquisita... 

3 comentários:

  1. Ainda no fim de semana mandaram-me uma cena brutal que era um frasquinho de vidro (tipo um frasco de compota) cheio de papéis de várias cores lá dentro. A ideia era nesses papeis escreves um livro que está na tua lista para ler e em vez de decidir retiras o papelinho e siga a marinha :x
    Isto comigo não resultava LOL

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    1. Já conhecia esse método. Penso que já falaram sobre isso noutros blogues. Comigo também não ia resultar. Em primeiro lugar porque o universo de livros que posso escolher é tão vasto que não precisaria de um frasco, mas sim de um caixote. Em segundo porque acho que, ainda que não encontremos lógica nenhuma na escolha que vamos fazer para próxima leitura, é capaz de haver mesmo alguma lógica. Por exemplo: tinha acabado de ler um autor brasileiro e passei para um livro de História. Entre este e o que entretanto escolhi, dei um pulo à BD e ‘limpei’ um bocadinho a cabeça que tinha ficado cheia de datas e de conteúdos históricos. Só depois disso acabei por escolher. Ainda estive para ir para um autor português, mas como Os Filhos do ZIp Zip, que tinha acabado de ler, era de autora portuguesa e sobre Portugal, mudei de ideias. Pensei ir para um contemporâneo, mas os dois que lera antes eram de contemporâneos. Resultado: um clássico, mais propriamente o Robinson Crusoe. Portanto, isto não funciona em modo ‘vira porca e venha outra’. Por estranha que possa ser, existe nas nossas cabeças alguma lógica ou alguma vontade que pende para aqui ou para ali. No entanto, é uma angústia, sim. :)

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  2. "A angustia da escolha" de um livro é sempre bem curiosa, no meu caso terminei um "Maigret", (gosto muito do Simenon, mas só os livros do inspector Maigret) e enquanto me decidia qual o livro a ler, dos recebidos no Natal, li um Bernard Prince/(da série saída recentemente) e depois comecei a ler "A Casa da Aranha" do Paul Bowles, escritor que gosto bastante. Mas geralmente, nunca leio dois livros do mesmo género seguidos.
    Já "O Papiro de César", o mais recente Asterix, gostei bastante, (embora tenha saudades do humor de Goscinny) adorei a personagem do editor de César, e as suas sugestões para eliminar os irredutíveis gauleses das suas memórias vitoriosas. Quanto ao livro da Helena Matos, que refere, não conheço, mas despertou-me a curiosidade, porque a época Marcelista "dá pano para mangas", as suas célebres conversas em família, com a lareira a seu lado e os conspiradores de café a comentarem no dia seguinte a sua palestra, são inesquecíveis, até para um marciano.
    Saudações Marcianas e bom feriado.

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