sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Tomar as dores alheias

Há três ou quatro blogues que de tão conhecidos são praticamente incontornáveis e praticamente todos os que têm um modesto espacinho, como este, seguem o que por lá se vai publicando. Até aí, tudo normal. O que já não é normal é a forma um bocadinho à maneira de um rottweiller pouco simpático como alguns seguidores defendem os bloguers e atacam os comentários daqueles que discordaram de algo publicado ou que fizeram um comentário um pouco mais depreciativo (mesmo que nada ofensivo). Torna-se ridículo ver como, perante um comentário que não consiste apenas em elogios à responsável pelo blogue (como são quase todos), alguns seguidores parecem tornar-se feras prontas a estraçalhar o ordinário que se atreveu a dizer que aquela camisa não assentava bem à autora do blogue ou que os últimos posts publicados são já muito distantes daquilo que o blogue se propôs a ser desde o início. 

Às vezes, ao assistir a esta bizarria, imagino o que, do outro lado, pensará a bloguer que tem de decidir que comentários publica e que comentários censura. Calculo que se recoste na cadeira, sorrindo porque tem o circo a arder, mas nem precisa de mexer uma palha para repôr a ordem. Alguém não gostou de algo que disse e comentou-o. Agora a bloguer podia responder ao comentário, mas para quê se dezenas e dezenas de pessoas aparecerão para lhe dizer que não ligue, que não passa de inveja, que é linda na mesma, que tudo o que faz é o máximo e que o resto do mundo é composto apenas por dois lados: o dos fanáticos que a adoram porque é perfeita e os trolls que não percebem que aquela é a melhor pessoa do mundo porque ajuda os outros, corre que se farta para ficar ainda mais perfeita e porque tem uma vida cheia de doçura e de bens materiais espectaculares.

Pois, caros defensores de bloguers deste mundo, mais chata do que a redundância e peneirice que pejam alguns dos blogues mais conhecidos é mesmo a vossa incapacidade de encaixarem e perceberem uma crítica mais negativa a uma publicação ou à própria pessoa que escreve aquele blogue. Estamos a falar, não raras vezes, de gente que recebe para falar de uma marca ou para aparecer em determinados eventos. Frequentemente, também, alguma coisa desgostará a um ou outro leitor e, assim, no meio de todos os elogios aparecerá então um ou outro comentário mais negativo. Mas isso faz parte: qualquer coisa que se torne pública é alvo de uma apreciação crítica e esta pode ser positiva ou negativa conforme a opinião que cada um fizer dela. Será que para seguir um blogue e comentá-lo tenho de achar sempre que quem o escreve é um poço de virtudes, que tudo o que diz e faz é perfeito e capaz de melhorar este vale de lágrimas em que vivemos? Ora, poupem-me! Todos nós que escrevemos blogues, sejam eles rentáveis ou não, dizemos muitos disparates e, com muita regularidade, coisas que não agradam a outros. Daí a gerar-se uma espécie de guerra civil entre os que querem que a bloguer seja intocável e os outros que encaram a matéria publicada como sendo digna de ser comentada como merece (desde que o nível não desça e se passe ao insulto ou à falta de respeito), vai um bocado.

No fim de contas, em muitas áreas da vida, podemos gostar muito de uma coisa e conseguir, ainda assim, perceber nela dois ou três aspectos que podiam melhorar. Eu adoro Saramago e já percebi que houve dois ou três livros que descarrilaram um bocadinho. Matarei todos os que achem o mesmo? Não. Matarei os que acharem que o Saramago não era um bom escritor? Não. Mandarei para a fogueira todos os que forem incapazes de em cinco segundos elogiarem pelo menos novecentas e vinte vezes o escritor? Muito menos. Por isso, gente que corre as caixas de comentários à espera da oportunidade de poder defender com a vida a/o bloguer dos comentários menos simpáticos que lhe possam surgir, deixem-se disso que já enerva. Ninguém é perfeito e, como em tudo, haverá sempre o dia em que merecemos mesmo os comentários mais críticos. 

2 comentários:

  1. Aaaah, como eu adoro esses circos :D Faz-me sempre lembrar a escola primária onde havia sempre os grupinhos e quem não era "por nós" era "contra nós". Há coisas que são ditas apenas com intenção de magoar, é verdade, e sim, só "só segue quem quer", mas também é verdade que já cansa ler como cada comentário que não seja para dizer amén é sempre sinal de inveja (adoro, até os argumentos são os mesmos que existem na escola primária!) e obviamente que "quem diz é quem é".
    Para além disso, bloggers que vivem da imagem e da publicidade a marcas devem perceber que existe feedback de todos os tipos. Óbvio que é diferente dizer "és uma p..." ou "não gosto desse vestido", mas por que é que só os comentários a dizer "és linda" são válidos? Isto dava uma óptima tese de psicologia!

    PS- Tenho que confessar que não gosto muito de Saramago, espero que não mandes os teus fãs atrás de mim ;)

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  2. Não gosto de Saramago. Agora dá-me uma paulada virtual xD
    Esse pessoal é demasiado estranho... Não entendo a necessidade de defender outra pessoa até à exaustão, como se tudo o que disser for fantástico, e todos os que ousarem criticar, ainda que seja uma crítica construtiva, são monstros a abater. E claro, depois, passa-se à parvoeira. E não raras vezes, a pessoa "defendida" nem quer nada disso. É simplesmente estúpido... Há pessoas inexplicáveis, não são só os gatos =P
    ****

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