segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As estimativas

Desde que me mudei, recebi duas contas da luz e ambas geraram longas conversas telefónicas com o serviço de Apoio ao Cliente da empresa. E porquê?
 
Quando chegou a primeira conta, que abrangia o primeiro mês de vida cá em casa e, assim, uma série de dias em que ainda não nos tínhamos mudado definitivamente, mas em que já por cá passávamos umas horas, tive um ataque cardíaco. A conta rondava os sessenta euros e explicava-me que havia consumido mais de duzentos kWh. Depois do choque inicial, fui até ao contador e percebi que havia gasto uns míseros cinquenta kWh. Liguei para lá, pedi a correção da factura e, na volta do correio, a queridinha baixou para menos de metade.
 
Há uns três dias chegou nova factura e lá tenho eu nova conta a bater nos cinquenta euros e a estimar-me um gasto de mais de duzentos e vinte kWh. Regresso ao contador e verifico que, na realidade, consumi novamente cinquenta e poucos kWh. Nova chamada para a empresa e nova correção da factura. A conversa foi, diga-se, surreal e incluiu-me a garantir à senhora que passaria a deixar as luzes todas ligadas de modo a justificar os consumos astronómicos que me atribuem todos os meses. Agora estou a aguardar a factura corrigida para ver o que vem de lá. Prometida está uma chamada semanal para dar as minhas contagens de modo a evitar as estimativas absurdas que de lá têm vindo.
 
A empresa explicou-me que o problema deve-se à potência contratada que, não sendo pouca, faz com que as estimativas sejam elevadas. A mim não deixa de fazer-me confusão que a estimativa seja o quádruplo daquilo que consumo efectivamente. Que fosse um pouco mais alta do que aquilo que gastamos, até percebia, mas quatro vezes mais parece-me realmente absurdo. Mais: não dei a contagem nesta segunda vez porque a funcionária que me cancelou a primeira factura disse que, estando eu a ligar ao dia onze de Dezembro, a melhor altura para dar a próxima contagem seria um mês depois. Estava eu à espera do dia onze e pimba: vem de lá uma segunda factura igualmente má. Agora estou expectante para saber em quanto tentarão roubar-me no próximo mês. Sim, porque acredito que muita gente pague as facturas sem ir ao contador para ver se está a pagar o que efectivamente consumiu. E então com os débitos directos deve ser uma verdadeira animação.
 
Estou, portanto, deliciada com estas estimativas e com este modo de cobrar sem saber quanto a pessoa gastou ao certo. Surgiu-me a ideia de pedir o meu salário por estimativa, mas tenho quase a certeza de que com a sorte que tenho vinha de lá um ordenado equivalente a um sexto do que ganho agora.

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