sábado, 10 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada: visto!


Fui finalmente ver este filme ao cinema. Não vou mentir: esperava uma coisa diferente. No entanto, gostei do que vi: conseguiu fazer-me soltar umas gargalhadas, mas, também, ficar de nó na garganta a pensar que nunca conseguiria largar este país. Creio que o realizador quis acentuar certos estereótipos precisamente para distinguir a comunidade portuguesa num país que foi obrigada a abraçar. Brinca-se muito com a figura do emigrante em França, mas a verdade é que deve ser uma verdadeira tortura deixar tudo para trás e partir para uma vida difícil num país que não é o nosso. Eu não o conseguiria.

Agora, julgo que o filme tem momentos em que nos revemos um pouco naquelas personagens desbocadas e nada emproadas que não temem a gargalhada e o espalhafato. Somos gente de saudades e de melancolia, mas nós, os portugueses, somos uns belos galhofeiros capazes de fazer a festa com pouco. Ainda assim, pareceu-me que ficou a faltar alguma coisa. A filha do casal protagonista ainda põe o dedo na ferida ao referir o modo como os pais (os supostos representantes de muitos casais portugueses emigrados na década de setenta) se deixam pisar pelos outros. Parece-nos que essa chamada de atenção empurrará as personagens noutra direcção que não a da constante subordinação e que seja, no fundo, a da recompensa depois de uma árdua vida de trabalho. Mas afinal não: fazem-se ver uns pontos de vista, mas pouco mais. Acaba por saber a pouco aquele final. No entanto, e vendo por outro lado, pode também significar que a pátria que adopta os emigrantes acaba por tornar-se, muitas vezes, insubstituível, até mesmo por aquela que os viu nascer.

O que este filme é sem qualquer dúvida é uma bonita homenagem que o realizador faz aos pais, também emigrantes em França. Mesmo colando alguns rótulos às personagens, trata-as com carinho e mostra bem o dilema que divide quem tem um pé em cada país. O nó na garganta que alguns sentiram quando se cantou o fado ou quando a família se junta para um almoço à portuguesa mostram bem que este cantinho que todos insultamos quase diariamente, que nos põe loucos com algumas das suas características, que vive na penúria e do desenrascanço típico, é a nossa casa, o nosso lar e o nosso lugar. Pode partir-se com a ideia de voltar, mas nunca se larga definitivamente o nosso sítio. É como dizem os versos do fado "Prece", que faz parte da banda sonora do filme: "Da parte de Deus tudo aceito / Mas que eu morra em Portugal."

1 comentário: