domingo, 16 de junho de 2013

Uma Parte do Todo: o balanço

Acabei hoje de ler o romance Uma Parte do Todo, de Steve Toltz e publicado em Portugal pela Ulisseia. São seiscentas e oitenta e uma páginas intensas, plenas de acontecimentos e de um humor que, pela voz do narrador, me fez recordar o bom e velho Adrian Mole dos diários

A história é complexa, embora nunca difícil de seguir. O narrador é um rapaz filho de um homem extravagante que viveu toda a vida à sombra do famoso nome do irmão, facto que ele detesta. O tio do narrador, portanto, havia sido um famosíssimo criminoso australiano que, por razões muito tortas, era estimado pelos australianos. Jasper Dean, assim se chama o narrador, conta-nos, então, ao longo de centenas de páginas a história do seu pai (tão ligada à do tio assassino que até dói) e a sua própria vida, também ela marcada pela memória de um familiar que chocou a Austrália e que ainda no presente da narração a fascina. No fundo, Martin Dean, o esquecido irmão do criminoso, passa a vida a tentar encontrar um lugar que seja seu, procurando deixar pelo caminho o carimbo de "irmão do Terry Dean" que parece persegui-lo.

Em alguns momentos sentimo-nos diante de uma feira dos horrores carregada de gente louca e muito azarada. O humor que surge tanto pelas situações, quanto pela linguagem e ainda pelas diferentes personalidades que ficamos a conhecer é um dos aspectos mais cativantes do livro. É uma história absolutamente inacreditável e ninguém queria ser interveniente numa histórias destas, contudo a graça com que tudo é contado aligeira bem o peso dos acontecimentos. Creio que nunca deixarei de sorrir perante a lembrança de um concurso que consistia em apostar em quem morreria primeiro para inaugurar o cemitério novo da cidade.

No fundo, as personagens dividem-se entre as que têm muita sorte e conseguem escapar de tudo, e as que têm muito azar e que, por isso e por muito mais, falham sempre. Estas últimas nunca deixam de ser uma parte do todo, mas geralmente a parte que consegue minar esse todo e fazer abanar os seus alicerces até que tudo desmorone completamente. E, gente, neste livro as coisas desmoronam e muito. Neste texto tudo está interligado, não existem pontas soltas e aquilo que parece tosco num parágrafo acaba por ser fundamental uma centena de páginas adiante. A própria linha narrativa pode levantar algumas dúvidas, porém, chegados ao final da obra, tudo encaixa e muitíssimo bem. Tal como num puzzle, em que as partes fazem o todo, também aqui todos os pormenores contam para o produto final. 

Aconselho a sua leitura a todos os que não se importam de ler quase setecentas páginas que não se conseguem largar durante muito tempo. Creio que este autor não tem mais nenhum título publicado por cá, mas ficarei atenta. Este livro é demasiado bom para que o autor pare por aqui. Leiam e depois digam-me se não tenho razão.



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