domingo, 8 de julho de 2012

A Menina Quer Isto XVIII


Quando trabalhava numa livraria (ai que saudades!), vi uma edição deste romance, publicada pela Europa-América. Na altura dava-lhe umas olhadelas durante as horas mortas e comecei mesmo a ler o livro. Contudo, como a edição não me enchia as medidas, não cheguei a comprá-lo (sim, eu era uma das melhores clientes da livraria onde trabalhava). Há uns meses soube que a Relógio D'Água ia fazer uma edição deste texto de Lev Tolstói e resolvi esperar ansiosamente pela sua chegada. Hoje lá o vi na FNAC e preparei-me logo para o pôr no cestinho das compras, mas acabei por deixá-lo lá. O preço pareceu-me um pouquinho puxado e eu preciso sempre de preparação prévia para gastar mais de quinze euros. Este custa vinte e cinco, por isso ainda levarei uns dias a convencer-me a abrir os cordões à bolsa. No entanto, continua a ser um texto que quero muito muito ler.

E já que falo nos tempos da livraria, hoje na Zara vivi uma experiência curiosa. Vem ter comigo uma vendedora que começa em tom monocórdico e com sotaque brasileiro a despejar uma enxurrada de informações sobre o cartão de cliente da Zara. Eu ouvi-a de mão no queixo (postura de quem pensa afincadamente em alguma coisa, claro, basta recordarem-se da estátua de Rodin). Quando ela se cala, digo:

- Muito bem. Acho que te conheço.

- A mim? - pergunta a moça meio espantada.

- Sim. Não andaste na Faculdade de Letras?

- Sim.

- E lembras-te da moça da livraria? Era eu.

Fez-se luz. Ela lembrava-se e eu estava espantada com o facto de me ter recordado do rosto de alguém com quem falei uma única vez há mais de dois anos. Tenho uma péssima memória para caras por isso era realmente um feito tê-la reconhecido.

Começámos a falar, perguntou-me por que tinha a livraria fechado, perguntei-lhe pelo curso e cinco minutos depois percebi o que me levara a reconhecê-la. Hoje, como nos tempos em que me ocupava atrás do balcão a falar sobre livros com todos os que entravam naquela loja, a moça falou, falou, falou, falou, falou, falou... Falou tanto em cinco minutos que me pareceu que estava a falar comigo há horas. Melhor: parecia que nunca tinha deixado de me ver. Mas não me interpretem mal: gostei de voltar a conversar com ela e de a ouvir a reclamar com o Processo de Bolonha em plena Zara. Fez-me andar dois anos para trás, quando a ouvi a reclamar do plano de estudos do seu curso naquela Faculdade. A diferença é que hoje não era eu quem estava atrás do balcão.

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