sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olhando para livros V

Lamento não conseguir cumprir os horários deste desafio, mas o dia de ontem foi surreal de tanto trabalho que tive e o de hoje foi a ressaca da desgraça de ontem. Por isso, levo aqui um atraso de dois itens que corrigirei agora. 

9. Livro hilariante

Acho que até hoje, nenhum livro me arrancou tantas gargalhadas quando este:


Um “evangelho” escrito por um suposto amigo de infância de Jesus e que, ao contrário do que possa parecer, consegue, no seu registo humorístico, funcionar como homenagem à figura histórica de Jesus. 

Todavia, há uma colecção de livros que li e reli na minha infância e adolescência que também me fez rir muito e que agora, como professora, recordo bastante amiúde:


Os diários de Adrian Mole, um rapaz inglês hipocondríaco na década de oitenta do século passado eram absolutamente brilhantes. E no meio daquela parvoíce adolescente que povoava a vida do pobre rapaz, aprendiam-se muitas coisas sobre a política da época, a sociedade e os costumes britânicos e por aí fora (nada como os Diários de um Banana desta vida que são, para mim, parentes paupérrimos do bom e velho Adrian Mole).


10. Livro perturbante

Não sei se foi o livro que mais me perturbou até hoje, mas foi este que recordei agora:


Recordei-o porque enlouqueço sempre que me sinto encurralada e é isso o que acontece ao protagonista deste livro de Kafka: esbarra constantemente num muro de burocracia e má vontade que o impedem de cumprir o desejo de falar com quem o contratou. Claro que o fruto proibido é o mais apetecido e ele continuará a tentar, a tentar, a tentar... 

Também considerei o Todos os Nomes, do Saramago, um livro muito perturbante na medida em que nos põe perante o outro e perante a possibilidade de sermos alguma coisa para alguém que não conhecemos e de sermos, ainda assim, os seres mais solitários do mundo.

Mas lembrei-me agora de outro que encaixa aqui na perfeição:


A história é inusitada: certo dia, vendo-se ao espelho, um tipo percebe que tem o nariz ligeiramente torto para um dos lados. A mulher confirma-o descontraidamente, estranhando até que o marido só agora reparasse nisso. Ora, o resultado é uma obsessão que nasce da percepção de que somos sempre olhados e julgados pelos outros e de que nunca temos verdadeiramente acesso ao que pensam sobre nós. E, de facto, é mesmo assim. Só que quando o percebemos, não fazemos disso motivo de reflexão de todos os nossos dias, ao contrário da personagem principal. Perceber que o nariz sempre fora torto, que as pessoas sempre haviam visto nele algo em que ele nunca tinha notado torna-se um choque enorme que o conduz a uma série de peripécias e de reflexões que nos recordam que todos nós, mesmo fora do livro, estamos sujeitos aos mesmos julgamentos. É um livro a não perder.

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