sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A gargalhada e o cansaço

Há uns dias falava com um grupo de jovens com mais ou menos treze anos e, a propósito de um texto que haviam lido, disse-lhes que é pouco o tempo que passamos sozinhos, só com os nossos pensamentos. Com tantas horas de escola, de atividades e de ligações à internet, são quase inexistentes as horas em que podem ser realmente eles mesmos, sem terem de mostrarem a sua faceta mais social. Depois, no seguimento da conversa, disse-lhes que mesmo na idade deles, muitos não têm duas horas do dia que possam dedicar sozinhos àquilo que gostem de fazer, seja simplesmente não fazer nada, ou ler um livro...

O que fui dizer! Ouvi uma gargalhada daquelas que vêm mesmo lá do fundo. Um dos meninos achou muita graça à minha ideia aparentemente utópica de que alguém possa querer passar duas horas a ler. Ou uma. Ou ler. Ler??? Quem é que quer fazer isso?!

Tentei explicar ao menino (procurando manter a calma) que há mais mundo além da internet, do Facebook, dos jogos e dos filmes. Tentei levá-lo a conceber a ideia de que há pessoas que não querem viver na ignorância e que, por isso, dedicam tempo aos livros, a entreterem-se com eles e a aprenderem com o que lá está escrito. Mas qual quê?! O miúdo quase morria de riso e foi até ao fim da conversa incapaz de conceber tal cenário apocalíptico. É isto o que muitos meninos daquela idade (e mais novos e mais velhos) pensam sobre a leitura, sobre os livros e sobre os leitores. Por muito que se lhes explique que não estão certos, por muito que se lhes mostrem novos textos ou novos livros bons e capazes de pôr qualquer um (que não eles, pelos vistos) a ler, a opinião é invariável: ler é ‘seca’ e é para ‘quem não tem vida’.

E se de dentro do menino saiu uma valente gargalhada, de mim só sai desânimo porque me sinto a pregar a peixes que vivem entalados (e enlatados) entre o mundo da casa, onde muitas e muitas e muitas vezes não entram livros porque os próprios adultos não lêem, e o da escola que quer formar leitores e que acha que a mesma receita pode ser aplicada a todos os alunos por igual. Ele ri-se, eu canso-me.

2 comentários:

  1. Não há como desanimar.
    Mas sei de muitos professores que não lêem e que nunca tiveram hábitos de leitura. É triste.
    Mas infelizmente, é assim que vai Portugal e não só.

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    1. Também conheço muitos professores que não lêem nada. Também não compreendo. Acho que já fiz uma quixotada sobre isso. Não percebo a lógica. Aliás, não tem lógica.

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