...Assim, mais ou menos todos os dias sinto isto: uma danação acima de tudo o que se possa imaginar por ter de largar o livro ou a revista para ir acudir a sopa que tem de ser mexida senão agarra, ou mesmo porque o autocarro está a chegar à minha paragem e tenho de dedicar-me a uma coisa tão prosaica quanto trabalhar. Cada vez tenho maior a convicção de que os nossos dias estão muito mal divididos, de que sete ou oito horas de trabalho por dia é muito e de que a vida nos passa ao lado de tão embebidos que estamos em tudo o que TEMOS de fazer (e que tanto nos separa do que QUEREMOS fazer). Passamos o dia a trabalhar e ao chegar a casa lá vêm outros trabalhos. No meu caso a coisa é a dobrar, pois além daquilo que preciso de fazer em casa, também tenho trabalho "do trabalho" para fazer, seja a preparar aulas ou testes, a corrigi-los, a dar notas... Uma tragédia. E por isso a leitura vai parando e recomeçando, e parando e recomeçando num pára-arranca que não mata, mas mói. E quem diz a leitura diz tudo aquilo que dá gosto fazer e que está sempre em banho-maria porque ainda falta fazer isto e isto e aquilo. Claro que com isto tudo, quando sobra o tempo (nas raras vezes em que tal sucede), agarra-se nele com uma sofreguidão louca e com uma ansiedade de "quero fazer isto, isto, isto e isto, mas o tempo não chega para tudo. Por onde começo?!" que quase sempre chego ao fim com a sensação de que perdi mais tempo a tomar a decisão do que a fazer o que queria.
E depois deste destilar de raiva por não poder dedicar mais tempo ao que me aquece o coração (e que é problema bem velho, mas que só tem tendência a piorar), vou ali ler umas páginas. Amanhã já é segunda-feira e lá voltamos ao mesmo: ter de parar tudo a toda a hora porque tarefas mais chatas nos reclamam. Ah se eu fosse rica...
Percebo tão bem, sinto que tenho tão pouco tempo para as "minhas" coisas :( A leitura acaba por ficar quase esquecida em todos os afazeres que me preenchem os dias, o que não me agrada nada!
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