domingo, 30 de setembro de 2012

Sorte

Ontem vi esta notícia na SIC e hoje voltei a vê-la. Fico doente só de imaginar um casal adulto a ter de ir a casa dos pais diariamente para se alimentar porque nenhum dos dois emprego. Ela é professora e ficou sem colocação. Mais: professora de uma das disciplinas com piores resultados nos exames nacionais. Certamente fará muita falta nas escolas, mas num país onde é preferível esticar as turmas até aos trinta alunos, para que se quer mais esta professora? Aliás, esta e os outros: com trinta alunos por turma, atrevo-me a arriscar que estar lá o professor ou não estar é absolutamente indiferente. Os resultados dos alunos serão maus, a frustração dos docentes será grande, o desemprego entre os professores é e será gigantesco.
 
Quantos casais como este existirão? Quantos e quantos adultos estarão, neste momento, a almoçar em casa dos pais, não porque seja dia de visita à casa paterna, mas sim porque o frigorífico lá de casa está vazio e sem condições para ser enchido? Quantos têm de suportar esta vida diariamente e ainda tolerar mais medidas de austeridade e mais disparates de gente que sabe tanto governar este barco quanto eu sei guardar gado? Quantos somos, afinal, a sentir que ser jovem em Portugal é hoje uma grande porcaria e a pensar que valia mais termos nascido muitos anos antes da década de oitenta, só para não termos esta idade agora e para não nos sentirmos tão inúteis e desprezados como sentimos? Quantos casais como o da reportagem partilham as lágrimas que o rapaz segurou quando admitiu que a ajuda alimentar dos pais é que os salva? Afinal, quantos somos e por quanto tempo continuaremos a sê-lo?
 
Fiquei muito comovida com as palavras e a situação deste casal. A estes dois jovens desejo toda a sorte possível, assim como desejo a todos os outros que se sentem encurralados numa situação que não criaram. Assim como desejo a mim própria.

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