Hoje viajei de autocarro com um clone da Vicky Pollard (para quem não conhece, é uma personagem da série britânica «Little Britain» e aparece na foto com o seu mui célebre casaco cor-de-rosa). A figurinha era gorda, mas estava espremida numas calças rosa de cintura descida que ela insistia em puxar pomposamente para cima. A camisola era curta, ficando boa parte do abdómen da fofa adolescente de fora. A mala minúscula, como se quer, tinha as fuças da Hello Kitty na frente. O decote era suficiente para se formar uma nova aldeia de estrumpfes.
A criatura estava à porta da escola com as amigas, mas depois resolveu baldar-se e ir para o Colombo. Importa dizer que eram oito e trinta da manhã e que o centro comercial abre às dez horas... Bom, apanha então o autocarro onde desaba no assento (sim, porque o que ela fez não foi sentar-se: foi mesmo desabar com pompa). Puxa do telemóvel e, porque àquela hora ainda está tudo muito mono, resolve pôr uma batida em volume espampanante para todos poderem disfrutar de tão belo som. Podia jurar que o velhote sentado atrás da menina ia batendo o pé ao som daquela musicazinha africana. Segurando o telemóvel à frente da cara, começa a dançar no banco enquanto masca a sua pastilhazinha de forma pouco elegante (elegância? O que é isso?). Ao lado dela a amiga, escanzeladíssima e bastante despida, enviava SMS's. A Vicky Pollard portuguesa resolve então virar-se para a amiga, fazendo assim uma pausa na sua dança, e berrar:
- Acaba com o gajo, c******!
Não sei se a outra desfez ali mesmo uma relação que se crê bonita, mas se não o fez não foi certamente por falta de um conselho sapiente vindo de uma amiga capaz de pronunciar tão belas palavras de apoio.
Continua, depois deste dito, a mexer a cabeça ao som da música. De repente diz com gáudio à amiga:
- Ó coisa, ontem fui à Damaia!
Assim, com a mesma alegria que eu teria se dissesse:
- Cara patroa, obrigada pelo aumento de 200% no meu vencimento!
Desfia, enfim, a descrição da sua viagem àquela maravilhosa zona, acrescentando uma série de vocábulos provavelmente crioulos ou, quem sabe, apenas próprios de um clone da Vicky Pollard. Sai, depois, na paragem junto ao centro comercial, pelo meio de mais umas palavras cheias de elegância e de risadas pouco costumeiras a tal hora matinal.
Segui o meu caminho rindo para mim própria: é ou não é incrível que existam seres reais tão chocantemente parecidos com figuras de ficção? E é ou não extravagante que estes clones tenham um orgulho desmesurado em serem tão caricatos? Melhor: é ou não engraçado que, para estas figuras, ridículos sejam os outros, os monos calados que não ouvem música aos berros e que não incomodam toda a gente pela manhã? Bem, desinteressantes não são certamente: animaram bastante a minha manhã. A Vicky Pollard lusitana é que não acharia muita graça a isso se soubesse...
Sem comentários:
Enviar um comentário