Por estes dias reparei em alguns factos que, em lojas, parecem ser suficientes para levar alguém a não comprar alguma coisa. Tendo em consideração que estes espaços existem para vender coisas, certas atitudes seriam de evitar. O que parece de loucos é o facto de as lojas não o perceberem e persistirem nos mesmos erros, ano após ano. Este é um tema a que acho imensa piada, tanta que vou comprando livros sobre ele. Um de que gostei muito e que recomendo a quem queira perceber o modo como as lojas funcionam, prevendo as nossas atitudes é o livro A Ciência das Compras, de Paco Underhill. Algumas das coisas que li ali, verifiquei depois, in loco, serem totalmente verdade. Por exemplo, uma de que me recordo diz respeito ao facto de a maioria dos clientes virar à direita quando entra numa loja. Ora, sabido isto, o estabelecimento comercial terá de organizar a sua loja tendo-o em consideração. Quando entro na Bershka do Colombo dou sempre por mim a virar à direita e a fazer a volta à loja a partir daí. Mas note-se, também, que o livro refere que em países onde a condução se faça pela esquerda, a regra inverte-se: as pessoas entram nas lojas e tendem a virar à esquerda. Portanto, em que medida o modo como conduzimos influencia a nossa vida? Curioso, não?
Mas esta quixotada não é nenhuma recensão àquele livro. Serve, sim, para mostrar os tais factos em que reparei. E aí vão eles:
1. Uma loja que venda roupa e sapatos tem de ter provadores e banquinhos onde nos possamos sentar a experimentá-los. Entrei, na semana passada, numa loja que tinha uns provadores impecáveis, mas sem bancos. Estes estavam dentro da loja, junto a umas prateleiras. Sentei-me a experimentar umas botas e em determinada altura uma funcionária aparece a pedir-me para me desviar para poder chegar a uma das prateleiras onde se encontrava um artigo que precisava de agarrar. Eu ando diariamente carregada com uma pasta e com a minha carteira. Naquele dia ainda tinha um casaco. À minha volta, enquanto experimentava as botas, havia, portanto, tudo isso e mais as botas que levava calçadas nesse dia. Com um pé calçado e outro descalço, lá me desviei o melhor que pude. Ficaram as minhas botas à frente da prateleira. A funcionária agarrou nelas e atirou-as para o lado. Leram bem: atirou-as. Olhei para ela como se fosse queijo fedorento, mas a tipa não percebeu a ideia. Resultado: fez menos uma venda.
2. Uma sapataria, assim como qualquer loja de roupa e acessórios, tem todo o interesse em manter os espelhos limpos. Já nem falo do facto de haver uns espelhos mais amigos do que outros, falo simplesmente de limpeza. Ao experimentar umas botas hoje numa das sapatarias em que entrei, percebi que a zona inferior do espelho (precisamente aquela que me interessava) estava de tal forma suja que não conseguia perceber muito bem como me ficavam as botas. Resultado: menos uma venda feita.
3. Quando descobrimos um par de sapatos de que gostamos e verificamos que o exemplar exposto é o nosso número, experimentamo-lo. Mas temos dois pés, por isso convém experimentar também o par. Pedimos, então, à funcionária que no-lo traga. Lá vem ela com a caixa, tira a papelada toda que lá está dentro e entrega-nos o artigo. E depois fica ali, qual soldadinho de chumbo, a ver se não fugimos montados nas botas que pedimos para experimentar. Não gosto dessa pressão, embora compreenda a razão pela qual é feita. Geralmente, quanto mais tentam levar-me a comprar alguma coisa, menos eu compro. Gosto de andar um bocadinho com o calçado, ver com as calças por cima, sem as calças por cima e não gosto de ter alguém por cima do meu ombro a repetir «ficam muito giras» a cada dois minutos. Resultado: faz-se menos uma venda.
4. Há produtos a que somos fiéis. Por exemplo: há quatro anos que compro sempre o mesmo fond de teint de Estée Lauder. Sempre o mesmo tom, sempre do mesmo tipo, mas nem sempre na mesma loja. Costumava comprá-la numa perfumaria muito conhecida, mas acabei por mudar-me para outra ainda mais conhecida. Ambas são de presença muito frequente em centros comerciais. E porque mudei? Porque sempre que ia à primeira delas, saía de lá aborrecida. Umas vezes porque as funcionárias, maquilhadas logo pela manhã como se à noite fossem trabalhar num bar de má fama, quando lhes dizia o que queria, olhavam para a pele do meu rosto e, fazendo umas trombas bem feias, diziam coisas como «pois, está muito seca e com mau aspecto». Quantas vezes me segurei para não dizer: «Amiga, a minha pele, embora seca, que sei que está assim, ainda é e parece ser a de alguém na casa dos vinte. Já a sua, com esse camadão de betume, blush, sombra, batom e gloss, está longe de deixar alguém acreditar que você tem menos de cinquenta anos. Não tem, pois não? Pois, mas parece...». A antipatia daquela gente irritava-me, mas cheguei ao meu limite quando um dia peço o fond de teint no tom habitual e a tipa hipermaquilhada insiste comigo que a minha pele permite que compre dois tons acima. Insiste, insiste, insiste. Ora, eu sou branquinha e é isso que lhe digo e ela insiste, insiste, insiste. Levo a porcaria do tom que indicou. Ela abrira a caixa com o X-acto ainda na loja para me mostrar a cor e logo ali desconfiei de que a coisa daria mau resultado. E ela insiste, insiste, insiste. Em casa, no dia seguinte, aplico aquilo e fico com a cara num tom aproximado ao de um tijolo. Vou, em fúria, até à loja e lá consegui trocar aquela porcaria. Expliquei à menina que me atendeu que fora a colega quem abrira a base e que não me deu o tom que eu pedira. Fizeram a troca. Nunca mais lá voltei. Mudei-me para a concorrência e estou satisfeita.
5. Ninguém gosta de comprar gato por lebre, porém essa troca vai sendo cada vez mais frequente. Conheço duas lojas portuguesíssimas em Lisboa onde se vendem sapatos exactamente iguais aos que se vendem nos estabelecimentos dos chineses. O problema é que isso não só não é dito aos clientes como também as caixas são diferentes daquelas que veríamos na loja asiática. E, como se não bastasse, sapatos chineses em loja portuguesa são bem mais caros do que sapatos chineses em loja chinesa. Quando vejo isto, dou meia volta. No chinês já sei o que de lá vem. Mas quando vou a uma loja que apregoa produto nacional e que depois vende o que acabei de ver com uma etiqueta «made in China» noutro estabelecimento, acabo sempre por ir embora revoltada pelo engodo. Resultado: vender gato por lebre não resulta.
6. Quando chego a uma loja e não tenho direito a um «bom dia» ou um «boa tarde», principalmente depois de eu, cliente, ter sorrido às funcionárias, a minha vontade é sair de lá imediatamente. Também já fui lojista e sei que por vezes os pés doem, que muitas vezes não apetece estar ali, que o salário é curto para as horas de trabalho que se fazem, entre outras coisas. Mas se há quem não tem culpa é o cliente. Esse faz a máquina mexer e o negócio continuar. E se este continua, o emprego mantém-se. Nos dias de hoje isso já vale muito. Gente antipática a atender afugenta os possíveis compradores. Resultado: menos umas vendas.
Podia continuar esta lista. Há tantas coisas que irritam no que às lojas diz respeito. Há tantos motivos para fugirmos de algumas lojas no exacto momento em que entramos que talvez esta quixotada venha a ter parte dois. Por agora é isto. Muitas vezes o que nos faz não comprar não é apenas a falta de dinheiro: são também os erros na constituição das lojas, dos seus equipamentos, mas também das pessoas que nelas trabalham. Acredito que ter um estabelecimento comercial seja uma aventura, especialmente em tempos de crise. Ainda assim há pequenos erros que podem ser rapidamente emendados, dando-se, desse modo, um melhor ambiente ao espaço e fazendo com que as pessoas abram realmente as suas carteiras e adquiram os produtos à venda sem vontade de fugir dali depressa.
O que me faz fugir de uma loja logo à entrada é a funcionária vir a correr ter comigo para ajudar em tudo e mais alguma coisa... Um simples "Bom dia" seria muito mais eficaz. Gosto de ver as coisas em paz, se precisar de ajuda eu tenho boca para pedir!
ResponderEliminarTer um par de olhos em cima de mim e ter que dizer "Estou só a dar uma vista de olhos, obrigada" com um sorriso amarela faz-me logo perder a vontade de comprar...